Victor José e Elisa Oieno, que juntos foram o duo Antiprisma, falam em entrevista sobre o indie, o alternativo e influencias.
O duo de folk lisérgico Antiprisma é formado por Elisa Oieno e Victor José. Juntos eles lançaram em 2016 o disco “Planos Para Esta Encarnação”. o disco é delicado e pede por uma audição atenciosa e de preferencia em um local calmo. Assim a música consegue cumprir sua função de acalentar a alma e te fazer esquecer que a rotina é (geralmente) uma grande e estúpida burrice.
Resolvemos conversar com o Victor e a Elisa sobre um estilo musical que amamos muito por aqui, o indie. Aproveitando a deixa – e o cenário ao qual estão inseridos – pergunto um pouco também sobre como é o role alternativo na visão deles. Visto que o indie é uma abreviação do independente, e no independente a grande parte das bandas toca um rock alternativo.
Leia nosso papo ouvindo o primeiro disco do duo Antiprisma “Planos Para Esta Encarnação”:
Oi, gente! Massa ter vocês por aqui pra bater um minutinho de conversa sobre o indie, a primeira pergunta talvez seja a mais simples. O que é o Indie na opinião de vocês atualmente?
Elisa: Pra mim a expressão Indie remete a “independente”, seja na maneira de se fazer música, divulgar música e todas as áreas que envolvem não só a música mas a cultura em geral, quando não está atrelada – e principalmente, não submetida – a uma grande corporação ou instituição. Por causa disso, geralmente o resultado de algo produzido de maneira independente é muito mais livre e sincero. Essa ideia acabou sendo incorporada pelas bandas como um valor em si, principalmente pelas bandas dos selos independentes a partir do final dos anos 80… e de certa forma esse valor continua até hoje no mundo independente.
Victor: Pra falar a verdade, esse é um termo tão abrangente que nem sei se hoje tem um significado capaz de definí-lo. Vejo o Indie como um modo de abordagem, e não como um gênero musical com som e estética definidos. Mesmo porque, só de observar de longe a gente percebe que os grupos chamados “Indies” quase sempre são muito diferentes um do outro. Em termos sonoros, o Indie hoje não tem a unidade que se ouvia nas bandas da década de 2000, por exemplo, com todas aquelas bandas com um alto nível de hype. Pelo que parece atualmente a diversidade musical atingiu um patamar absurdamente alto, o que parece bom. Então por isso eu acho que o Indie ganhou uma importância além do “soar Indie”… quero dizer, hoje Indie significa o método independente que aplicamos no modo de fazer e ouvir música. Livre de tudo o que é possível.
No Antiprisma vocês tocam mais próximos ao folk lisérgico do que outros estilos musicais, mas eu vejo vocês em shows de estilos bem diversos disso. Do Stoner Rock dos Dum Brothers ao psicodélico e experimental de My Magical Glowing Lens. Como vocês se enxergam tocando um estilo diferente dessa galera que, querendo ou não, pertencem a mesma “cena”?
Victor: Eu acho isso incrível. Pra mim as coisas devem caminhar até chegar a esse entendimento. Não é porque você é metaleiro que você não deve se misturar com a gentalha do Antiprisma! Enfim… no momento que a gente vive nem cabe mais esse tipo de separação, e esse espírito de diversidade pode nos ensinar muitas coisas pelo caminho. É óbvio que tem muita coisa que a gente não curte mesmo, o que é natural, mas quando a gente gosta nem sempre precisa ser parecido com o que a gente faz, entende?
Elisa: É muito bom, porque eu acho a diversidade de estilos deixa muito mais rica a experiência de ir a um show de várias bandas ou a um festival. E para nós, enquanto banda, é ótimo também, porque é sinal de que não estamos presos a um nicho específico.
E a galera sempre fala muito de apoiar a “cena” de música independente que rola aqui em São Paulo. Vocês acham que esse apoio acontece (tanto por parte do público quanto quem trabalha na área)?
Victor: Acontece. Não é organizada como deveria ser, mas acontece bastante. Apesar de que agora eu vejo uma movimentação mais consciente, mais engajada de todo mundo se apoiando ao mesmo tempo. Pelo menos na nossa experiência com o Antiprisma, a gente percebe muito isso, essa comunhão. Vai ver é daquele tipo de coisa que todo mundo passa a entender junto, e sinto que de um ano pra cá isso ficou ainda mais forte. A tendência é melhorar. Em tempos de crise a criatividade dá as caras com mais intensidade, né?
Agora, pra gente finalizar o nosso minutinho de conversa indie, comentem sobre as bandas novas que escutam e, claro, as que fizeram vocês descobrirem o indie rock ou estilos semelhantes.
Elisa: A banda que me fez entender qual é o lance todo de ‘indie’ foi o Nirvana! Porque em torno do Nirvana sempre rolava essa discussão sobre a dicotomia do “independente x mainstream”… Sobre bandas novas, tem muita coisa acontecendo de diversos estilos. Aqui do Brasil, gosto muito do Terno Rei, Ventre…
Victor: Vejamos… Der Baum, Vitreaux, Tagore, Molodoys, My Magical Glowing Lens, ÑADA, Ricardo Carneiro, Wallacy Willians, Alambradas… Enfim, são muitas.