The Smile, projeto paralelo de Thom Yorke e Jonny Greenwood (Radiohead) ao lado do baterista Tom Skinner (Sons of Kemet), apresenta seu segundo álbum “Cutouts”, lançado em 2024. Seguindo os traços do álbum de estreia “A Light for Attracting Attention” (2022) e o álbum lançado em fevereiro deste ano, “Wall Of Eyes”, o novo trabalho mergulha em um espectro sonoro ainda mais amplo, misturando o experimentalismo do Radiohead com influências eletrônicas e “jazzísticas”. Enquanto a banda navega por territórios menos convencionais, “Cutouts” expande a visão estética da banda ao mesmo tempo que revela um caráter mais introspectivo e contemplativo.

Se há uma palavra que define “Cutouts”, essa é equilíbrio. O álbum trabalha delicadamente entre sons minimalistas e atmosferas densas, explorando espaços sonoros que vão do silêncio quase absoluto a camadas ricas de instrumentos. A faixa de abertura “Foreign Spies” exemplifica isso perfeitamente: inicia-se com uma construção minimalista que logo se transforma em uma massa sonora complexa, repleta de sintetizadores e um baixo groovado. Greenwood, conhecido por sua habilidade em manipular texturas sonoras, usa de riffs sutis e angulares, enquanto a batida de Skinner imprime uma pegada quase ritualística, transportando o ouvinte por um ciclo constante de construção e desconstrução.

Na ordem: Jonny Greenwood, Thom Yorke e Tom Skinner

Já em “Instant Psalm”, The Smile revela uma inclinação maior ao jazz, uma constante explorada nos projetos paralelos de Yorke e Greenwood, mas aqui interpretada de forma mais livre e improvisada. A bateria de Skinner, claramente influenciada por seu trabalho com o jazz experimental, guia a faixa com toques que se desdobram em padrões imprevisíveis, ao mesmo tempo em que Yorke explora vocalizações mais etéreas e fragmentadas.

Se em alguns momentos The Smile flerta com o rock, em outros com o jazz. A banda abraça a eletrônica de forma incisiva. Isso é mais evidente em faixas como “Zero Sum” e “The Slip”, onde sintetizadores modulares e batidas programadas e com uma sonoridade bem “jazzística”, se sobrepõem às texturas orgânicas da guitarra de Greenwood e da bateria de Skinner. Essa fusão entre o digital e o analógico é uma característica marcante do álbum, criando um som que é ao mesmo tempo futurista e profundamente humano.

“Don’t Get Me Started” é angustiante e sufocante, principalmente por conta do seu sintetizador, que tem fade-in e fade-out, fazendo um loop, que combinada com a voz de Yorke, que tem reverberação, se transforma em uma musica claustrofóbica. O álbum se culmina em “Bodies Laughing”, que  tem um pouco de folk, eletronica e jazz, encerrando assim, “Cutouts”.

Ao passo que “Wall Of Eyes” trouxe The Smile para os holofotes com uma sonoridade mais concreta e próxima de seus trabalhos anteriores no Radiohead, “Cutouts” reafirma a banda como um projeto onde Yorke e Greenwood se sentem livres para experimentar, explorar e desafiar limites sonoros. O álbum não só expande o universo sonoro da banda como também oferece uma nova perspectiva sobre os talentos de seus integrantes.

“Cutouts” não é um álbum fácil de digerir, mas esse é justamente o seu charme. Ele requer uma audição atenta e desarmada, pronta para mergulhar nas camadas de som e nas nuances sutis que The Smile tece com maestria. Para os fãs de Radiohead, “Cutouts” é um abraço confortante para matar a saudade de um novo tranalho do grupo liderado por Yorke. Também pode servir como uma prova de que ambos ainda têm muito a explorar e oferecer, mesmo após décadas de uma carreira brilhante.

 

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Escrito por

Giovanni

Fã de prog, metal, jazz e indie.