Em entrevista ao Minuto Indie, banda americana fala sobre o processo e os sentimentos que inspiraram o novo álbum

Falamos com a The Aces, responsáveis por soltar um dos álbuns mais interessantes do ano. I’ve Loved You for So Long é o terceiro álbum da banda, lançado recentemente, em junho. A faixa-título, que saiu em abril, representa bem o clima do álbum, que reflete o amor das integrantes pela banda. O álbum foi bem recebido pela crítica, que elogiou as músicas que exploram temas como a solidão, a mudança e a auto aceitação.

A The Aces é uma banda de pop alternativo que vem de Provo, Utah (Estados Unidos). Elas são quatro amigas: Katie Henderson na guitarra, McKenna Petty no baixo e as irmãs Alisa e Cristal Ramirez, respectivamente na bateria e vocal/guitarra. Elas começaram em 2016 com o single “Stuck”, que fez sucesso nas rádios, e depois lançaram dois álbuns muito bons: When My Heart Felt Volcanic (2018) e Under My Influence (2020). Junto dos ótimos lançamentos, elas também se destacaram pela postura engajada em questões de gênero e diversidade. 

Em um papo bastante sincero, a baixista McKenna Petty, junto das irmãs Alisa e Cristal Ramirez (baterista e vocalista/guitarrista), nos contaram sobre os sentimentos nostálgicos envolvendo o novo álbum, além de compartilhar pensamentos sobre como manter uma banda de amigas no meio da rotina de compromissos com a música. Confira abaixo:

 

Como foi o processo de criação e gravação do I’ve Loved You for So Long? No sentido de: Como vocês se inspiram e se influenciam mutuamente na hora de compor e arranjar as músicas?

 

Cristal Ramirez: Sim, o processo foi longo. Começamos a fazê-lo durante a pandemia e ele tomou sua própria forma, como geralmente acontece com todos os nossos álbuns. Começamos com uma ideia em mente, mas acabamos criando algo completamente diferente ao seguir nossa inspiração. O que começou como uma descoberta ou exploração da minha ansiedade acabou se tornando uma reflexão completa da nossa juventude, crescendo em Utah, uma região religiosa e suburbana, e como foi isso, sendo eu, Alisa e Katie, estarmos no armário e lutando para conciliar a religião e encontrar nossa identidade, estando em uma banda e todas essas coisas. 

É a nossa história, sabe, então acho que o álbum acabou contando nossa história da forma mais honesta e vulnerável possível. O processo foi realmente divertido, porque foi tão emocional e catártico, mas também seguro e divertido. Íamos para o estúdio todos os dias com o único objetivo de seguir nossos instintos e nossa inspiração. Não estávamos pensando em escrever uma música de sucesso número um, ou fazer um álbum número um, não era isso que nos preocupava. 

Queríamos dar importância à arte, aos nossos instintos, explorar coisas que talvez fossem mais convencionais, experimentar sons e realmente criar uma experiência com o nosso álbum, em vez de focar em músicas individuais. O álbum foi concebido como um trabalho completo. O processo foi muito divertido, criativo e altamente colaborativo. Nós nos divertimos muito fazendo isso e, no futuro, ao fazer novos discos, continuaremos a cultivar essa mesma energia.

 

Nesse processo, teve alguma música em especial que se tornou a favorita de vocês? Seja pelo significado emocional, ou satisfação musical, enfim…

 

Cristal Ramirez: Sim, há uma música chamada “Suburban Blues” no álbum… É uma música muito pessoal. Eu falo, sabe, do ponto de vista de quando eu tinha 14 anos, me sentindo presa em minha cidade natal, ainda no armário, apavorada com o meu futuro e aterrorizada sobre como seria, se eu algum dia conseguiria sair da minha cidade. Parecia uma sensação de impotência, como se eu estivesse destinada a viver uma vida de inautenticidade. Sentia que teria que me acostumar a me sentir infeliz, insatisfeita e solitária.

Acredito que muitas pessoas já se sentiram assim, acho que muitas pessoas realmente se identificam com isso. Temos visto muitos fãs se manifestarem e dizerem que a música é curativa para o eu adolescente deles, confusos e com medo de sua identidade e de quem eram.

A música surgiu de forma muito natural, começamos a tocar juntas na sala de gravação, apenas improvisando, como fazíamos quando éramos crianças. E então “Suburban Blues” nasceu em cerca de uma hora. Ela surgiu muito rapidamente. E tornou-se um ponto importante do álbum, refletindo o que discutimos em todo o disco, que é a nossa juventude e de onde viemos.

Sobre esse aspecto, de quem são vocês e o que é a banda, como vocês veem a evolução musical da The Aces? Sentem que mudou muita coisa desde o primeiro álbum?

 

Alisa Ramirez: Sim, acho que houve uma evolução muito significativa para nós. É uma evolução bastante natural. Escrevemos nosso primeiro álbum quando éramos adolescentes, e depois, escrevemos esse álbum já na casa dos 20 anos. Nessa idade, há um crescimento exponencial em sua vida a cada ano. Sinto que essa evolução realmente se refletiu em nossa música. Aquele primeiro álbum era muito sobre o amadurecimento. É engraçado porque este também parece ser assim, mas é um pouco mais retrospectivo, enquanto o primeiro era mais presente. 

Há muita evolução, tanto em termos de crescimento e maturidade, tornando-se adulto no mundo, como também em relação ao som. Sinto que realmente começamos a aprimorar o que The Aces representa, qual é o som da The Aces. Embora sempre estejamos abertos a evoluir ainda mais e continuar ajustando e explorando coisas novas, nesse álbum, combinamos todas as nossas influências ao longo dos últimos anos e as encaixamos perfeitamente no disco.

 

Como é a relação de amizade entre vocês e como isso afeta o trabalho em equipe e a dinâmica da banda? Tipo, como vocês separam um tempo para diversão e cultivar a relação que vocês tem?

 

McKenna Petty: Nós adoramos nos divertir juntas, voltando àquela pergunta também. Gostamos de passar tempo juntas e fazer coisas por diversão. Acho que é realmente importante para a dinâmica do nosso relacionamento de trabalho ser capaz de fazer isso entre nós.

Alisa Ramirez: Nós precisamos fazer isso quando as coisas ficam realmente agitadas, porque, você sabe, quando lançamos um álbum, estamos em turnê e fazemos muitas entrevistas, além de viajar muito, ficamos juntas o tempo todo. Mas mesmo assim, precisamos ativamente pensar: “Ah, mas devíamos fazer algo que não esteja relacionado ao trabalho. Vamos jantar juntas ou ir ao cinema, apenas nos encontrar, dar um longo passeio juntas ou algo assim, só algo que não envolva trabalho”. Porque precisamos lembrar que há uma amizade entre nós. Só porque estamos juntas o tempo todo não significa que estamos alimentando essa amizade, sabe? Então, realmente tentamos fazer coisas desse tipo.

 

Legal demais a comunicação e a amizade de vocês, e como a música é parte essencial disso! Agora, sobre como vocês veem a banda: quais são os planos de vocês para o futuro, vocês tem algum sonho específico que ainda querem realizar?

 

Alisa Ramirez: Sim, com certeza. Acredito que nossa maior missão e objetivo é criar uma comunidade por meio de nossa música. Então, quanto mais pudermos fazer isso e quanto mais pessoas encontrarem conexão com The Aces, assim como nós encontramos, isso é o que nos deixa felizes e é o que nos impulsiona. Portanto, sinto que o principal objetivo é continuar expandindo essa cultura e comunidade que construímos.

Camila Ramirez: E ah, ir para o Brasil, claro! 

 

Eu ia falar exatamente isso! Até porque, vocês devem receber pedidos dos fãs brasileiros, certo?

 

Camila Ramirez: Nós com certeza temos que ir logo. Nós vamos!

 

E pra terminar, como vocês gostariam que as pessoas escutassem o álbum novo, de fone, som alto, no carro?

 

Alisa Ramirez: Não no celular. Recomendo ouvir com fones de ouvido, com certeza.

Camila Ramirez: Acho que esse álbum, para mim, é como uma história, certo? Idealmente, você o ouviria do começo ao fim, mas acho que as músicas são tão boas que você pode ouvir esse álbum como quiser. Ele é realmente a expressão de quem somos, mas também é seu. Você entende? Acho que o mais importante é que você tenha essa liberdade. Não gosto quando os artistas me dizem como ouvir um álbum, porque quero vivenciar a experiência por conta própria. Entendo o motivo deles fazerem isso, mas acredito que esse álbum é seu agora, ouça como quiser. Claro, adoraríamos que você ouvisse do começo ao fim, mas se houver certas músicas que você ama mais, faça o que quiser com elas. É realmente uma jornada nossa para você, e use-o da maneira que desejar, cure-se com ele e ouça as músicas que ressoam com você. Ele é seu, sabe?

Alisa Ramirez: Sim, mas faça isso pelo menos uma vez. Escute na ordem uma vez. Nós trabalhamos muito duro nisso. Eu estava nesse sentido.

 

Ouça agora o terceiro álbum da The Aces, I’ve Loved You for So Long

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"