Show do 5 Seconds of Summer no Brasil me fez lembrar que existe vida como ex fã

Assistir ao show de uma banda que já foi sua favorita pode provocar reações inesperadas. Passei por isso no último domingo, 23, no show da banda australiana 5 Seconds of Summer no Rio de Janeiro. Só percebi de fato essa ruptura quando cheguei ao Vivo Rio e vi pessoas bem mais novas na fila, parte dessas dispostas a pagar 100 reais por um pôster. Me senti meio traída. Como que o 5SOS seguiu em frente sem mim? 

O show foi excelente. Mesmo com o repertório focado no seu último álbum, 5SOS5 (2022), a banda abriu espaço para músicas dos primeiros lançamentos e até mesmo b-sides de EPs do início da carreira – com direito a um dado gigante rodado pela plateia para selecionar aleatoriamente uma fan favorite para ser tocada naquela noite.

Ser uma banda por mais de 10 anos é com certeza uma vantagem de Calum Hood, Luke Hemmings, Michael Clifford e Ashton Irwin, que se comunicam no palco com uma sinergia de invejar outros grupos. Irwin, inclusive, é um dos bateristas mais cativantes que vi ao vivo nos últimos anos. Me peguei em vários momentos parando para prestar atenção em como ele tocava, mesmo com sua bandana azul direto de 2013 tentando me distrair. A banda tocou como quem realmente estivesse feliz por estar aqui e os fãs responderam na mesma intensidade. Até mesmo o tremor do mezanino da casa virou assunto por aí.

Faz dez anos que eu virei fã da 5 Seconds of Summer, com direito a fan account no Twitter e tudo. Eu acumulava pastas no computador dedicadas para cada membro, separadas por anos, meses e dias. Em 2017, enfrentei percalços para conseguir estar na frente do palco mundo do Rock In Rio para a primeira apresentação da banda aqui. Em 2023, eu nem ia ao show, mas graças ao ofício eu fui. Quando eles começaram a tocar aquelas da minha época, fiquei me perguntando como que chegamos aqui – eu, eles e os fãs mais jovens que provavelmente entraram no fandom depois que eu já tinha saído. 

A questão é que ninguém te prepara para a vida como ex fã. Principalmente quando você é uma mulher adolescente, é comum ouvir que logo logo esse sentimento vai passar, aquele lugar comum do “é só uma fase” e a conexão equivocada do ser fã como uma característica exclusiva à adolescência. Provavelmente é uma fase, mas essa ruptura não é tão simples assim. Música novas do artista podem não bater, mas as antigas ainda têm o poder de trazer à tona tudo que você sentiu na época em que foi fã. E não só as músicas provocam isso, mas os símbolos e códigos internos, as amizades e outras relações de afeto que atravessam a experiência de ser fã também carregam essa possibilidade.

Me senti muito dramática ao perceber, pela primeira vez, que sempre chegaria o dia que eu não me veria mais nas coisas que já me definiram. Além disso, minha vez de fingir mais idade do que tenho e pensar “na minha época” tinha chegado bem antes do previsto. Antes do show da 5SOS começar, a cantora Day Limns subiu ao palco e fez um cover de “Little Things” da One Direction. Vi ao meu lado algumas meninas adolescentes abraçando umas às outras e cantando aos prantos a música. A 1D acabou há 8 anos, quando elas provavelmente ainda eram crianças. Me senti chata pensando isso, mas não posso negar que pensei. Pouco tempo depois, ajudei uma menina mais nova que estava passando mal. 

Quando foi a hora da 5 Seconds of Summer subir ao palco, eu já estava completamente convencida e incomodada de não fazer mais parte daquilo. Afinal, quem não quer se sentir parte do clubinho? A verdade é que encontrei outros clubinhos, porque a gente é assim, quer pertencer a qualquer custo. Fora que não tem nada melhor que ser fã.  A epifania que tive nesse show foi entender que posso ter perdido o interesse de acompanhar cada passo da banda, mas que nem por isso a banda também vai parar. Novos fãs aparecem, novas músicas nascem e não necessariamente essa galera vai se sentir como você já sentiu. E que bom para eles e para os que chegam.

Nessas situações você se pega questionando se vale a pena ir aos shows das suas ex bandas favoritas só para sentir o que já sentiu uma vez. Arrisco dizer que quase sempre vale. Tudo pela sensação rara desse compartilhamento de sentimento que só quem é ou já foi fã sabe – nesse caso, nem que seja por algumas músicas. Não à toa, estamos vendo por aí todos esses comebacks das bandas dos anos 2000, os jovens adultos semi 30 estão todos desesperados para sorrir de novo. Mas a real é que ser ex fã também tem seu valor. Você se emociona com o que já amou e sai de lá sem o impulso de comprar o bucket hat de 150 reais ou mais um copo para ficar eternamente no armário. Pequenas alegrias. 


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Escrito por

Maria Luísa Rodrigues

mestranda em comunicação, midióloga de formação e jornalista de profissão. no Minuto Indie desde 2015 e em outros lugares nesse meio tempo.