Álbum de Quinzinho Oliveira mostra sua incrível capacidade de reinvenção entre gêneros

Desde o seu surgimento, nos primeiros anos do século XX, o jazz tem dado provas de ser um gênero musical com ampla capacidade de absorver novos elementos sonoros e se renovar. E de, em cada nova reinvenção, soar ainda mais livre e instigante, mantendo suas características essenciais de improviso, criatividade e consistência.
Esse é o objetivo essencial de Eletrojazz- De Miles a Alok, álbum liderado pelo trompetista, compositor e arranjador Quinzinho Oliveira no qual ele nos oferece uma deliciosa mistura de várias tendências do jazz com a atual música eletrônica.

foto por Machine Produtora

Os dois artistas citados no título deste trabalho, já disponível nas plataformas digitais, não surgem por acaso. Dos grandes renovadores da linguagem do jazz, o trompetista americano Miles Davis (1926-1991) foi certamente um dos pioneiros nessa aproximação com a música elétrica e eletrônica.

Em álbuns como “Bitches Brew” (1969), “On The Corner” (1972), “You’re Under Arrest” (1985), “Tutu” (1986) e “Doo Bop” (1992, póstumo), Miles mostrou uma incrível capacidade de dialogar com essas sonoridades e tirar dessas experiências trabalhos ao mesmo tempo bons de se ouvir e altamente criativos.

Por sua vez, o DJ brasileiro Alok é um dos nomes mais poderosos na atual cena da música eletrônica dançante (EDM), e sempre disposto a parcerias com artistas de outras praias sonoras. E é isso que temos em Eletrojazz- De Miles a Alok.

O álbum nos oferece oito composições de Quinzinho Oliveira, sendo uma delas em parceria com o DJ B8 (“Momento) e outra com o baixista Gustavo Tenes (“Eletrojazz”).

Para gravar este trabalho, o trompetista se cercou de uma afiadíssima banda de jovens músicos, composta por Anderson Ramos (teclados e piano), Erick Pontes (guitarra e violão), Gustavo Tenes (baixo) e Daniel Tenes (bateria). O toque de mestre foi a inclusão do DJ B8, que com seus scratchs típicos do rap/hip hop ajuda a temperar essa mistura tão instigante.

Um charme adicional do projeto é o fato de que Gustavo (20 anos) e Daniel (24 anos) são filhos de Quinzinho, ambos com sólida formação musical e muito talento e criatividade. E os dois entraram no projeto por puro mérito artístico, como fica fácil perceber ao se ouvir esse álbum tão criativo e bem realizado.

A sonoridade desenvolvida em Eletrojazz- De Miles a Alok nos apresenta elementos de fusion, r&b, funk e jazz tradicional que se envolvem com as atuais sonoridades eletrônicas e dançantes de uma forma inovadora, mas sem descaracterizar a raiz jazzística que permeia cada uma das músicas incluídas no álbum.

A faixa “Expresso 22” traz as participações especiais de dois músicos do primeiro escalão da música instrumental no Brasil, Sizão Machado (baixo) e Lilian Carmona (bateria), ambos com currículos impressionantes nessa área.

“Eletrojazz”, que dá nome ao álbum, conta com um clipe que demonstra o jogo de cintura da banda montada por Quinzinho para acompanhá-lo, um belo cartão de visitas para divulgar os vários shows marcados para a apresentação deste trabalho, sendo que um deles será registrado para lançamento posterior.

Nos shows, além do repertório do álbum, a banda também toca um medley com músicas dos repertórios de Miles Davis (“Tutu” e “Human Nature”) e de Alok (“Alive- It Feels Like”), uma inteligente forma de situar o ouvinte em relação a esses dois artistas que inspiraram o projeto Eletrojazz- De Miles a Alok.

O projeto foi viabilizado com o apoio do PROAC (Programa de Ação Cultural), promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e para o qual foi selecionado em 2021.

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"