Reprodução: Acervo – Instagtam

O que falar sobre Lampião Rei? A banda diz que Holoceno (2021) foi uma estreia amadora, mas foi uma estreia amadora com muita classe e personalidade própria, misturando metal extremo, jazz, rock progressivo, zeuhl e um pouco de música regional. Se Holoceno foi uma ótima estreia, Lampião Rei é uma evolução poderosa, mesmo que não tenha uma produção sofisticada. Lampião Rei é mais uma vez, um álbum conceitual, mas que dessa vez não algo de viagem no tempo ou algo do gênero, aqui temos uma história de época, um realismo céu, ácido e real e que concentra-se ainda mais, na cultura nordestina. Temos uma diferença nesse álbum se for comparar com Holoceno, temos mais elementos que remetam com a cultura paraibana e a nordestina como um todo.

Lampião Rei é um álbum todo centrado na história de Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião que para alguns foi um bandido, e para outros, uma voz contra os latifundiários nordestinos. O álbum trabalha muito bem essa dualidade da figura história do Brasil, matava coronéis (como eram chamados os latifundiários no nordeste), aterrorizava cidades, mas dava parte dos sauws para moradores de áreas mais pobres. Não é preto no branco, todos nós temos áreas cinzas, ninguém é bonzinho ou malzinho o tempo inteiro, algo que provavelmente seria una característica clássica de filmes do grandíssimo diretor de cinema, Martin Scorcese. Lampião Rei é esse encontro de Zeuhl com Alceu Valência, mas sendo menos jazz do que Holoceno. Isso é notável já na introdução do álbum “Acende a Luz I. Alquimia”, que tem esse clima acústico, que é quebrado na faixa seguinte “O Encandeiro/Sagüatimbó”, que tem essa mescla de rock progressivo, zeuhl e forró. É aquele recadinho gostoso para àqueles que acham que o gênero puro é o que “presta”, e o resto não “presta”.

Lampião Rei, além de ter essa mescla inusitada de forró-prog-zeuhl, não tem nada de ruim, ou que atrapalhe a experiência. É coeso, redondinho, sem falhas, tudo nesse álbum é meticulosamente planejado. Papangu e seus membros estavam inspirados em criar esse álbum, desde a sua idéia, letras e o instrumental. “Boitatá” é essa deixa para o metal extremo dizer um oi e falar “só dei uma passadinha e já indo, valeu falou pra vocês”. “Oferenda no Alguidar” é uma, ou se não, a mais Prog desse diamante rosa em forma de álbum. Esse SFX no início deixa logo de entrada, que não é um prog convencional, nem mesmo para o que Papangu já tinha feito no Holoceno e até então em Lampião Rei. “Mulher Rendeira” é um jazz um pouco convencional, “Sol Raiar” é um forró classudo, “Maracutaia” e “Ruínas” são encaminhada para o jazz fusion com zeuhl. O álbum se encerra com “Rito do Coração”, que olha… É a melhor faixa do álbum. Ela condessa tudo  Lampião Rei fez no caminho. Lampião Rei é o melhor álbum do Papangu? Claramente. Isso significa que evoluíram desde Holoceno? Se já começaram com uma voadora na porta, Lampião Rei conseguiu fazer uma tarefa difícil, serem melhor que a estreia. É prazeroso uma banda trazer essa abordagem diferente do habitual que nós consumimos dentro da música brasileira.

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