No longínquo ano de 2023 (sim, 2023 já é considerado como ano retrasado, na data de envio dessa resenha) os poloneses do rock progressivo, vulgo, Riverside voltou com uma pausa de 5 anos após Wasteland (2018). Agora em ID.Entity, a banda soa como um soco bem dado na modernidade disfuncional. Aqui, a banda polonesa pega o rock progressivo, um pouco de eletrônica, mas em uma dose bem reduzida, se for comparado com seu antecessor, e que se mistura com crítica social, grooves viciantes e um toque de ousadia que sempre teve na aura da banda. Se antes o som deles flertava mais com o melancólico e introspectivo, agora em ID.Entity, é uma pegada mais crua, suja e direta, quase provocativa

Fonte: Acervo/Instagram

A abertura com “Friend or Foe?” já dá o tom que teremos nesse alnum: sintetizadores retrô, uma linha de baixo pulsante e uma melodia que poderia facilmente soar, com uma balada prog da década de 1970—até que o peso entra, e você lembra que isso ainda é prog, não é simples de compreender, pois há muitas variações. “Landmine Blast” é mais concisa, mas mantém a energia, recheada de grooves, mini-explosões de bateria, mas sendo ainda menos acessível, enquanto “Big Tech Brother” se aproveita do icônico livro “1984” (George Orwell) e faz uma crítica às grandes corporações de tecnologias, mais conhecidas como big ttechs. Fora que a faixa aposta em algo próximo de jazz-prog, ainda mais, a faixa cria um clima paranoico e sombrio, um retrato perfeito da era digital sufocante.

Post-Truth” começa com guitarras afiadas e uma letra que poderia ser um editorial sobre o caos da desinformação, mas a depender desse jornal, facilmente seria pago para mentir para a população, sendo também uma crítica aos conglomerados de mídia . Mas acredito que o grande destaque é “The Place Where I Belong”, uma viagem de inacreditáveis 13 minutos que junta jazz, folk, eletrônica e muito progressivo em momentos etéreos, explosões instrumentais e um refrão que literalmente, gruda na cabeça. É Riverside sendo Riverside—criativo, emotivo e imprevisível.

Na reta final, “I’m Done With You” exala introspecção, frustração e urgência, um desabafo sonoro carregado de raiva contida. E então vem “Self-Aware”, encerrando o álbum com um tom mais animado e, curiosamente, quase otimista. O instrumental lembra a construção do início do álbum, em “Friend Or Foe?“, inclusive, tendo os mesmos corais do início, mas referenciando o nome da faixa que encerra esse álbum, mas falando diretamente sobre essa música, o instrumental é grooveado e o refrão cativante deixam uma sensação de “ainda dá tempo de consertar as coisas”.

No geral, ID.Entity é Riverside modernizando o prog sem perder a essência, remetendo a timbres que poderiam estar presentes em bandas de rock progressivo nos anos 1970. É vibrante, crítico e, acima de tudo, humano, sem ser robótico. Pode não ser o trabalho mais atmosférico da banda, mas é o álbum mais direto e reto dos poloneses.

É uma capa de álbum que transmite a mensagem: estamos mais preocupados com a modernização dos meios de produção do que acabar com os problemas que nos atingem.
É uma capa de álbum que transmite a mensagem: estamos mais preocupados com a modernização dos meios de produção do que acabar com os problemas que nos atingem.

 

Autor

Escrito por

Giovanni

Me considero um fã de prog, metal, jazz e indie.
@giovarcon