Álbum de estreia da artista baiana traz participações ilustres da música atual brasileira, como Ana Frango Elétrico e Luiza Lian.

 

Foto por @vulgojr

Sabe que às vezes me pego pensando em como alguns álbuns de estreia tem a capacidade de nascerem praticamente perfeitos; aconteceu com a Letrux e sua Noite de Climão, em 2017. No ano seguinte, o feito se repetiu com “Cavala”, de Maria Beraldo. Ao saber do anúncio de “Olho de Vidro”, já sabia que isso poderia se reafirmar.

O fato é que Jadsa Castro transborda talento em seus trabalhos: desde o EP “Godê”, lançado mais de 5 anos atrás, passando pelo ótimo “TAXIDERMIA”, projeto com João Meirelles (sim, do BaianaSystem), era claro perceber que a voz da cantora baiana é sim um presente, de Deus, de Oxalá, da vida. Mas este material, que acaba de ser liberado, é – além de um dos melhores álbuns do ano – um marco para a cena brasileira. E vou explicar o motivo.

Tudo aqui exala extrema brasilidade desde o primeiro segundo, com a faixa “Mergulho”, seguida pela ótima “Sem Edição”. As letras, por exemplo, se encaixam dentro de um contexto que só nós, brasileiros, as entenderemos realmente. Cheia de gírias, emoções e personalidade, a voz da artista celebra figuras, hábitos e ritmos locais. Tudo isso, acompanhada por instrumentais bem calculados, mas sem perder a força e o gingado. E que gingado, hein?

Vamos pegar a tríade “Raio de Sol”, “Olho de Vidro” e “Mangostão”. A essa altura do campeonato, já estava impressionado com o disco. Mas sério, essas três faixas roubam a cena, num patamar que me fez lembrar do clássico “Clara Crocodilo”, de Arrigo Barnabé. Sem brincadeira, estou falando sobre esse nível de genialidade. Os vocais de apoio que parecem nos atiçar, de um jeito sexy e tenso ao mesmo tempo. Dentre os instrumentos, destaco aqui o baixo, que em T O D A S as faixas sabe como traçar a base perfeita para todas as experimentações sonoras se esbaldarem por cima dele.

E não podemos deixar de falar das participações. Ana Frango Elétrico, Kiko Dinucci, Josyara e Luiza Lian, quarteto que por si só já são grandes artistas de extrema competência, aqui não fazem o papel convencional de feats. As impressões de cada um são encaixadas de tal forma que só destacam ainda mais o poder de Jadsa. Por fim, todas as narrativas aqui contadas nos entregam um trabalho memorável, um verdadeiro chute na porta de nossas mentes.

Tô viajando muito? Acho que não. É simples: vá e escute o disco, passe por essa experiência. Você merece. Dificilmente vamos encontrar um projeto complexo, provocador e talentoso como esse tão rápido. Nota 10.

Escute agora

Jadsa, “Olho de Vidro” (2021)

MPB, Rock, Pop, Bossa Nova.

Balaclava Records.


Pra quem curte: Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Seu Jorge e Luedji Luna.



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