Depois de cinco anos, o Opeth está de volta com The Last Will and Testament, um disco que revive a essência do seu death metal progressivo, balanceando peso, melodia e sofisticação. Mikael Åkerfeldt, vocalista e guitarrista, resgata os guturais característicos do começo da banda, desenvolvendo um trabalho que faz uma retrospectiva do passado sem perder o foco no futuro. Inspirado em conflitos familiares e questões de sucessão, o álbum é conceitual, com faixas numeradas como parágrafos. Este balanço entre intensidade e progressividade torna este álbum um dos trabalhos mais robustos da banda desde Watershed (2008).

Reproducao:Acervo/Instagram (@officialopeth)

Os fãs aguardavam ansiosamente o retorno aos guturais, uma característica que havia desaparecido nos últimos álbuns, caracterizados por uma abordagem mais prog. Desde os primeiros instantes de “§1”, com sons misteriosos e o estrondo dos vocais guturais, é evidente que o Opeth está em busca de uma reaproximação com suas origens mais brutais. No entanto, o álbum mantém a sofisticação musical. A alternância entre o metal pesado e o progressivo, traço que sempre caracterizou a banda, está mais evidente do que nunca. A constante tensão entre a força bruta e a beleza melódica é o que dá vida a The Last Will and Testament, oferecendo um equilíbrio entre os dois universos que solidificaram a reputação da banda.

“§2” é uma das faixas mais notáveis do álbum, demonstrando perfeitamente a combinação entre peso e melodia. Com a participação especial de Ian Anderson (Jethro Tull) e Joey Tempest (Europe), a música exibe um duelo vocal brilhante, juntamente com um instrumental complexo e profundamente emocional. Ian Anderson também se destaca em outros segmentos, com sua icônica flauta e recitações que enriquecem a história. “§3”, a primeira canção sem guturais, destaca a habilidade do baterista recém-chegado Waltteri Väyrynen, ex-Paradise Lost, que assume as baquetas com originalidade e energia, inserindo novos níveis no som da banda. “§4” é fascinante, pois temos aqui, a participação de Ian Anderson, seja cantando ou tocando a sua flauta.

A história do álbum, baseada na série Succession, aborda conflitos familiares e disputas de herança, o que se reflete na estrutura conceitual das canções. A simbologia do testamento se manifesta tanto nos títulos das músicas identificadas como parágrafos, quanto na abordagem lírica e musical. “§5”, por exemplo, é a faixa mais extensa do álbum, com pouco mais de sete minutos, mas preserva a intensidade emocional e a habilidade técnica sem se estender desnecessariamente. Por outro lado, “§6” é provavelmente a mais otimista, construída sobre um crescente que mescla bateria, sintetizadores e uma linha de baixo cativante, proporcionando um intervalo em meio ao peso predominante do disco. “§7” volta com a brutalidade e sendo visceral. “A Story Never Told”, que finaliza a história de maneira melancólica, especialmente pelo solo de guitarra, que consegue ser brutal e melódico, soando como David Gilmour se fosse prog metal.

Reprodução: Acervo/Instagram

A produção, assinada em conjunto por Åkerfeldt e Stefan Boman, é notável pela clareza e fluidez do som. Cada instrumento tem seu lugar na mistura, gerando uma experiência envolvente e dinâmica. Esta abordagem meticulosa torna The Last Will and Testament uma obra que respeita a herança sonora do Opeth sem parecer plastificado ou genérico. A ilustração da capa, criada por Travis Smith, é discreta, porém alinhada ao conceito do disco. Apesar de não causar um grande impacto visual, complementa bem a trama sombria que permeia as faixas.

The Last Will and Testament não representa apenas uma volta ao death metal clássico, mas também uma celebração da trajetória e do progresso do Opeth. Ao combinar o melhor de seus períodos progressivo e extremo, o grupo apresenta um disco que honra seu legado, similar esteticamente a clássicos como Still Life (1999) e Blackwater Park (2001), incluindo os tempos contemporâneos como Pale Communion (2014) e In Cauda Venenum (2019). Mais do que um novo capítulo, o álbum é um presente para os  e uma demonstração de que, mesmo após décadas de trajetória, a sonoridade do Opeth ainda possui muito a oferecer e explorar. Certamente, é um dos melhores álbuns do ano.

 

Autor

Escrito por

Giovanni

Me considero um fã de prog, metal, jazz e indie.

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