Cantora apresentou nova turnê ‘Coisas Naturais’ em duas noites cheias no Circo Voador, no Rio de Janeiro

Ao entrar no palco, Marina Sena comprova que a música é divina. Com um arranjo na cabeça e um pedestal à sua frente no palco, a artista se coloca em uma posição graciosa e impõe uma dominância refinada diante do público. E é em alto volume que ela é recebida pelo público que canta cada palavra das faixas “Coisas Naturais” e “Numa Ilha”.

Já nesse primeiro ato, Marina mostra o recomeço na era Coisas Naturais, em que tudo está diferente. O impacto definitivamente foi dado; agora já podemos dançar. Ela quebra a parede da figura sublime e retoma seu lado que todos conhecem, sorridente e despojada, entregando um medley com hits dos outros discos “Me Toca”, “Que Tal” e “Pelejei”, em arranjos ainda mais sofisticados do que as turnês anteriores. 

Marina é uma estrela transparente que nunca esconde a emoção, e por mais que já tenha lotado o Circo Voador algumas vezes, ela não se acostuma com a conquista, e nem quer.  A conexão com seu público é sincera, e a fidelidade fica evidente na cantoria das canções do novo disco, lançado há menos de 2 meses mas parecendo que sempre esteve no coração dos fãs. 

No quesito repertório, o show é bastante completo, mesclando sabiamente as novas e as antigas, como Combo da Sorte seguida do megahit Por Supuesto, e com entrega da plateia ainda mais intensa nas novidades. Em Mágico, Marina leva a energia do público lá pra cima antes de se retirar e voltar num ritmo mais desacelerado e sensual com Doçura e Lua Cheia, com direito até a cantar em espanhol.

Créditos: Gustavo Dames

A partir dessa troca, o entrelace dos blocos do show como um todo merece elogios por sua construção bem pensada e funcional e, com isso, na metade do show, um fato já fica muito claro: Coisas Naturais é a melhor turnê da carreira de Marina até aqui. Ao tomar a decisão acertada de trocar o balé pela banda, ela mostra o amadurecimento de seu som e de sua postura como artista no palco. 

Para TOKITÔ, uma surpresa: a cantora ítalo-brasileira Gaia aparece em carne e osso no palco para cantar sua participação na gravação da faixa, e em poucos versos conseguiu entregar muito carisma. A melhor parte do show, no entanto, é aqui, numa sequência absurda de faixas do Coisas Naturais: a divina SENSEI, seguida do agito intenso de Desmitificar e desembocando em um verdadeiro fervo durante CARNAVAL. 

O clima ameno retoma quando ela deita no chão para apresentar Pra Ficar Comigo, e assim demonstra que com o poder sublime de penas com um microfone e um telão, Marina não precisa de mais nada. Ela constrói a atmosfera intimista até o ponto em que a banda se retira, restando ela e o violonista para apresentar Voltei Pra Mim — com tanta intimidade que tem até brincadeira sobre costumar ser viciada em términos.  Rola muita risada, mas a brincadeira passa e o público se entrega quase em uma devoção à Mande Um Sinal. 

No encaminhamento para o final, há reentrada da banda durante Anjo, que começa acústica e vai ganhando força tanto com os instrumentos quanto com os vocais e falsetes brilhantes de Marina, comprovadamente aprimorados nessa nova era. E não tinha como terminar diferente se não com Ouro de Tolo, faixa que encerra o álbum e realmente traz a sensação de completude para a apresentação. Se a carreira de Marina no pop já era promissora, ela agora prova que não há mais do que duvidar, e que tanto como figura quanto no som, ela é a diva pop que abraça o Brasil — e o Brasil abraça de volta. 

Autor

Escrito por

Rafaella Murad

pesquisadora de canção e aspirante à jornalista musical, mas sendo e fazendo mil coisas no caminho.