Banda inglesa vem apresentando inovações tanto sonoras quanto visuais em seus novos singles

 

         Cavalcade, o novo disco do black midi (que sai no finalzinho de maio), aos poucos vai ganhando mais forma e densidade. “John L”, o primeiro single lançado juntamente à apresentação da nova fase da banda e anúncio do álbum, ganhou um clipe dirigido por Nina McNeely, coreógrafa no filmaço “Clímax”, do Gaspar Noé (tem na Netflix!!!! sério, assistam). Ali, já conseguimos enxergar a força do visual proposto pelos caras e o avanço nos clipes, agregando ainda mais tensão e loucura a vibe que já nos eram apresentados desde o primeiro disco, Schlagenheim.

            Mas o vídeo de “Slow” chega com o pé na porta e cria um conceito cheio de referências e tipos de animação, elevando a música ainda mais, quase a transformando em uma trilha sonora de um mundo caótico e totalmente imprevisível, como a música do black midi geralmente é. Confere ai:

           Bom demais, né? E  tivemos a honra de conversar com o sueco Gustaf Holtenäs, que dirigiu o clipe. O artista, que é animador, desenvolvedor de jogos e músico, nos contou como foi trabalhar com a banda e desenvolver um universo onde “Slow” se encaixa como a condutora de uma história bem viajada, além de mostrar suas inspirações dentro e fora da música.

MI: Bom, sei que você faz muitos tipos de arte (vídeos, pinturas, jogos, etc). Como essa jornada começou?

Gustaf: Bem, eu cresci sendo um grande fã de animes e videogames. Todos esses mundos imaginários que eu consumia tiveram um grande impacto dentro de mim. Eu sempre desenhei muito e tive, desde pequeno, interesse em tecnologia. Acho que isso me fez explorar todos os tipos de expressão visual que um computador pode oferecer. Existem tantos softwares para criar artes digitais!

 

MI: Quais são suas maiores influências artísticas? E como isso afeta o seu trabalho?

Gustaf: Como mencionei antes, mangá/anime e jogos de videogame; mas, em particular, a série antiga do Final Fantasy (VI-X) está presa dentro de mim. Eu estudo pintura clássica de vez em quando e tem muitos, muuitos artistas mais tradicionais que me inspiraram durante os anos. Na verdade, existe uma referência ao Gustave Doré no vídeo de “Slow”, com anjos em uma espiral. O legal em fazer vídeos é que não se resume apenas em estética, existe um ‘contar história’ por trás. E é uma das partes mais interessantes do processo, construir e entregar o conceito/história. Todas as etapas depois dessa são mais focadas em criar boas imagens. Quando olho para a narrativa do clipe, vejo claras inspirações em Melancolia (2011), A Origem (2010) e Matrix (1999).

Esboço feito por Gustaf para o conceito primário de “Slow”.

 

MI: Como veio o convite para trabalhar com o black midi? Você já os conhecia na época?

Gustaf: Olha, eu esqueci de perguntar como eles me acharam. Nós temos alguns contatos e conhecidos em comum, mas não tenho certeza como isso aconteceu. A assessoria deles entrou em contato e nossa, fiquei mais do que feliz em trabalhar com eles. Já conhecia o som da banda e estava bem ansioso pelo novo material, então foi bem legal fazer parte dessa preparação. Eu também toquei em bandas de math rock quando era mais novo e meu grupo favorito era o Hella, assim, a música do black midi sempre foi do meu estilo.

 

MI: O clipe de “Slow” possui três tipos de animação, certo? Como elas foram feitas? Teve algum roteiro para seguir?

Gustaf: Sim, eu fiz um roteiro que circulava entre estes diferentes mundos, e o criei dessa forma porque queria fazer um vídeo bem maximalista, com todas as técnicas que aprendi durante os anos. O primeiro mundo é um desenho animado feito a mão, que desenvolvi no papel e Photoshop. O segundo é em 3D, e o construí quase inteiro no Blender, mas com algumas cenas no Unreal Engine (que meu irmão, Ludvig Holtenäs, me ajudou a fazer). O terceiro mundo foi mais experimental, acabei criando primeiro um esboço em 3D, processei com um programa num estilo de inteligência artificial e, na verdade, até usei algumas texturas de Neon Genesis Evangelion. Me pergunto se alguém conseguiu perceber isso. E, pra finalizar, processei mais ainda o vídeo no After Effects pra criar um tipo de aparência bem única e estranha.

Criação e edição dos 3Ds no app Blender.

MI: Como você se sentiu quando ouviu a música pela primeira vez? A banda te deu liberdade para seguir com seus pensamentos ou houve uma linha de raciocínio?

Gustaf: Eu AMEI! É ambiciosa, épica e bem bonita. Uma ótima música. E eles me deram total liberdade no processo de criação do clipe, que foi feito em 2 meses desde o primeiro email. Assim, me apeguei a primeira ideia que surgiu enquanto escutava a faixa, esquematizei em um dia, mandei o storyboard de volta para eles e recebi o sinal verde. Depois disso, foi só desenhar, filmar algumas cenas e deixar o computador renderizar dia após dia.

 

MI: Você escutou o álbum inteiro (Cavalcade)? O que achou?

Gustaf: Sim, eu escutei, e amei demais o disco! A direção que os caras tão indo é exatamente o que eu desejava. É um belo caos muito, muito bem estruturado.

 

MI: As referências foram um grande auxílio na construção de “Slow”. Quais são os artistas que você acompanha, curte e indica?

Gustaf: Olha, eu escuto muita música bem antiga. Mas alguns artistas que tô curtindo bastante nos últimos anos são OneOhtrix Point Never e Eartheater. Bons demais! Também quero fazer aqui uma indicação de uma ótima banda sueca que trabalho junto, a HOLY. E, pra fechar, curto muito alguns diretores de animes japoneses, como Katsuhiro Otomo (Akira), Mamoru Oshii (Ghost In The Shell), Satoshi Kon (Perfect Blue, Paprika) e, claro, Hayao Miyazaki (gente, sério, assistam todos os filmes do Miyazaki).

Gustaf e Aila Esko nos bastidores do clipe, montando a cena com os efeitos práticos. O órgão que aparece em certo momento foi confeccionado pelo próprio diretor.

 

A banda acabou de fazer uma home session para a KEXP, tocando músicas de Cavalcade. Se liga:

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