Em entrevista ao MI, vocalista da banda, Rafael Bola, comenta sobre lançamentos, álbum novo, nova fase e principais influências
Foi na praia, calçando chinelos, bebendo água de coco sob a sombra de prédios tortos e observando o pôr do Sol no canal de Santos que nasceu a Zimbra, uma das principais bandas de pop-rock nacional da atualidade. Após mais de 10 anos de carreira, três álbuns gravados e turnês do norte ao sul do Brasil, o quarteto atravessa por uma nova fase ao misturar o resgate de influências iniciais e a busca por mudanças e renovações.
Em uma manhã de quinta-feira, marco uma chamada de vídeo com Rafael Costa – conhecido pelo seu popular apelido de ‘Bola’. Simpático, o vocalista da Zimbra atende a ligação e me recebe virtualmente em seu quarto. “E aí, mano, tudo bem? Já faz um tempo desde a nossa outra conversa, né?”, foram os seus cumprimentos.
Antes da entrevista, passei a semana resgatando a discografia completa da Zimbra, que, além dos álbuns “O Tudo, o Nada e o Mundo” (2013), “Azul” (2016) e “Verniz” (2019), é composta por uma série de singles e EPs que marcam a trajetória do conjunto.
A sonoridade da banda, que se situa na fronteira incerta entre o pop-rock e o rock alternativo, é marcada por guitarras arrastadas, distorções de overdrive nos refrões, baixos marcando os compassos e frases de metais – a cereja do bolo . No decorrer dos anos, é evidente uma mudança sonora nas letras e nos instrumentais que se tornam menos impulsivos, quando comparados aos primeiros trabalhos.
“As nossas vivências influenciam a música que fazemos e o jeito que pensamos. Então é muito natural que as coisas mudem. Seria preocupante se estivéssemos fazendo as mesmas coisas há 10 anos, porque daria a impressão que não temos o interesse em conhecer e estudar outras coisas. As mudanças são totalmente naturais e os trabalhos gravados, pra gente, são registros de fases”, afirma Bola.
Entre as vibrações das predominantes guitarras, com melódicos conjuntos de acordes e com solos que priorizam a harmonia ao invés da velocidade, é lançado, em março de 2020, um single que foge dessa proposta e surpreende a todos: “Lua Cheia / Claro que o Sol”.
Com batidas e linhas de baixos dançantes – bem acompanhados pelas metaleiras e pela guitarra –, a canção “Lua Cheia” se mostra uma vertente interessante e pouco explorada pela Zimbra – a faixa favorita deste que vos escreve –, ecoando elementos de gêneros como o soul, o funk e o pop.
Todo o swing do single, imediatamente, me remete a elementos presentes no “Mocado”, um EP lançado pela banda em 2014. Quando pergunto a Bola se houve um resgate de trabalhos antigos, sou surpreendido pela resposta de que “Lua Cheia” não é uma faixa nova, mas uma composição – amadurecida – da mesma época do “Mocado” que, assim como outras 10 músicas, não foi incluída no trabalho e permaneceu guardada.
“Um pouco antes da época de gravar [a ‘Lua Cheia’], começamos a tocá-la nos ensaios e pensamos: ‘cara, tá muito da hora!’. Percebemos que, por termos estudado mais os instrumentos, os arranjos, as produções, entre diversas outras coisas, conseguimos dar uma cara pra ela que não rolava na época”.
A arte na capa do single harmoniza os gelados tons de azul e a quentura do laranja em alusão as duas músicas que o compõe. No entanto, pode-se também interpretar como as diferentes faces que constituem a Zimbra, entre uma agitação e uma calmaria.
“Foi realmente um resgate do ‘Mocado’, uma veia da Zimbra que gostamos muito e eu, particularmente, adoraria fazer um disco só com músicas desse estilo. A gente só não expõe tanto essa vertente, porque sabemos que ainda é algo meio inexplorado e preferimos ir devagar. Sempre tentamos fazer um pouco dessa mistura entre o swing e um pouquinho de ‘tristeza’ (risos). Acho que essa dualidade funciona bem na banda”, complementa.
Ao final de 2020, o quarteto assinou o seu primeiro contrato com uma gravadora, a Midas Music – de Rick Bonadio, que trabalhou com Titãs, Charlie Brown Jr., Negra Li, Manu Gavassi, NX Zero, entre outros sucessos. A ação representa uma nova fase para o conjunto santista e que, em maio de 2021, resultou nos primeiros frutos com o lançamento do single “Vida Num Segundo”.
Bola explica que a letra da canção trata-se das mudanças sofridas por duas pessoas com o passar do tempo até que, em determinado ponto, apesar desses indivíduos não perceberem, tornaram-se estranhos um para o outro.
Musicalmente, “Vida Num Segundo” é uma faixa que se assemelha mais ao pop, através das palhetadas e da própria harmonia musical, porém sem perder o toque de identidade da banda – aquele detalhe que faz você ouvir determinada música e, imediatamente, saber de quem é.
“O Andherson [Miguez], nosso produtor, deu alguns caminhos para ‘Vida num Segundo’ muito diferentes do que pensávamos e abriu muito a nossa mente para um outro universo. Essa faixa foi a nossa primeira gravada em uma gravadora e, para a gente, tem um peso muito especial na nossa carreira”, conta o vocalista.
O músico também revela que, atualmente, o grupo segue produzindo uma série de singles que serão divulgados até o final do ano, sendo o primeiro desses o “Lá”, que deve ser lançado ainda no mês de julho.
“O ‘Lá’, que é o nosso próximo single, é uma música que não tem muito a ver com ‘Vida num Segundo’, mas lembra muitos outros trabalhos da Zimbra, principalmente do primeiro disco, como a música ‘Nó’”.
A Zimbra também pensa em produzir um EP para ser lançado no final do ano e planeja o início das gravações do seu quarto álbum para 2022.
“Pode vir um disco novo ao estilo do ‘Mocado’ e pode vir algo como o ‘Azul’, com músicas mais densas, porque são dois ambientes que nos sentimos confortáveis em trabalhar. Por enquanto, gravamos só o que gostaríamos de estar ouvindo. Pode acontecer de tudo daqui pra frente”.
A banda e o significado do nome ‘Zimbra’
Além de Bola (vocal e guitarra), o quarteto é composto pelo seu primo, Vitor Fernandes (guitarra), e seus amigos, Guilherme Goes (baixo) e Pedro Furtado (bateria). Desde o início, ainda no ensino médio, já almejavam fazer da música e da, até então, Panorama – nome anterior da banda – a sua profissão.
Através da internet, divulgaram seus os trabalhos e deram os primeiros passos no projeto que, nos anos seguintes, se tornaria um grande sucesso, realizando turnês por todo o Brasil e tocando nos principais festivais nacionais de música como Lollapalooza e Rock in Rio. Após uma votação interna, os integrantes aceitaram a sugestão de seu amigo, André Calvão, e alteram o nome para Zimbra.
“O André disse que ‘zimbra’ era uma gíria da época dele para falar que alguma coisa era legal ou maneira. Por exemplo, ‘caramba, esse tênis aí é mó zimbra!’ ou ‘pô, essa festa tá mó zimbra’. Mas fonte disso aí é só ele mesmo, porque a gente nunca ouviu alguém falar assim (risos). Também rolava esse negócio do zinabre, que é algo relacionado a maresia da praia que enferruja as coisas”, explica Bola.
Natural de Santos, no litoral de São Paulo, a Zimbra herda o posto ocupado pelo Charlie Brown Jr. como símbolo musical da cidade e o motivo de identificação da população local – curiosamente, o último disco do CBJr, “La Família 013”, foi lançado no mesmo ano do primeiro álbum da Zimbra, em 2013.
“Tenho certeza de que O Charlie Brown Jr., uma das maiores bandas que já existiu na história do Brasil, será lembrado para sempre como ‘a banda de Santos’. É muito gratificante para a gente estar logo depois no pensamento das pessoas, pelo menos na galera da nossa geração”.
Apesar de cultivados na mesma terra, as duas bandas se divergem ao retratar inspirações, como a praia, de maneiras diferentes.
“Eu passava muito tempo na ciclovia pensando, ouvindo demos nossas e olhando a praia. Isso é passado para música, mesmo que fora daquele estereótipo de banda de reggae e de bandas que falam sobre temas de verão, mas a praia em uma cidade urbana, porque Santos, apesar de ser litorânea, tem muitos prédios e carros. Acredito que essa mistura é o som da Zimbra. Esse monte de concreto e de prédios, porque temos muito desse lado urbano, com o swing da praia”.
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