Banda escocesa que carrega essência do indie rock, Dinosaur 94 comenta sobre o sucesso de suas músicas, e anuncia o lançamento do álbum de estreia
“Deus cria os dinossauros. Deus destrói os dinossauros. Deus cria o homem. Homem destrói Deus. Homem cria os dinossauros”. Assim constata o personagem Ian Malcolm (Jeff Goldblum), em uma das icônicas cenas do filme “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” (1993), ao se deparar com um Tiranossauro Rex e não com a banda sobre o qual escrevo hoje: a Dinosaur 94.
Formado em 2017, por estudantes da Universidade de Edimburgo, na Escócia, o conjunto é composto por Bertie Gleave (vocal, guitarra, teclado e trompete), Ed Meltzer (vocal e guitarra), Lizzie Lewis (vocal e baixo) e Josh Christopher (bateria) — eventualmente, também contam a participação de Tommy Tomato nos bongôs e no pandeiro.
Em um mundo onde o rótulo “indie” recupera, cada vez mais, a sua essência inicial de independência – graças as plataformas de streaming que possibilitam a divulgação do trabalho de pequenos artistas a um baixo custo, sem precisar de gravadoras –, o quarteto surge em meio a um cenário digital e de uma forma totalmente independente.
Sua sonoridade de indie rock se assemelha a bandas da mesma geração – como Beach Fuzz e The Slaps –, principalmente, nos riffs e nas levadas das guitarras. Simultaneamente, se diferencia em aspectos como nos vocais, tanto o principal quanto os secundários, e nas construções melódicas e estruturais das canções.
Apesar das audíveis referências ao rock alternativo das décadas de 70 e 90, a banda acredita que ainda não encontrou um “som próprio”.
“Ainda estamos em um ponto onde o nosso som ainda é bagunçado e cada música soa de um jeito diferente da anterior. Os Pixies realmente nos inspiram assim como diversos outros artistas”.
Com base nas descrições feitas até o momento, você já deve imaginar um grupo de amigos músicos que, certo dia, decidiram fundar uma banda e passaram a ensaiar na garagem ou no quarto de um dos integrantes – enfim, esse clássico “roteiro” na formação de conjuntos no mundo inteiro. No entanto, a história do Dinosaur 94 se distancia desse clichê.
Inicialmente, o relacionamento entre Meltzer e Gleave foi marcado por uma certa antipatia e rivalidade. Quando questiono o motivo dessa aversão, os rapazes explicam, bem humorados, que na ocasião em que se conheceram vestiam as mesmas roupas – da cabeça aos pés –, carregavam o mesmo modelo de violão e paqueravam a mesma pessoa.
“Eventualmente, a pessoa ficou com o Ed. Bertie superou e os dois começaram, lentamente, a se apaixonar um pelo outro em noites de open mic – um showzinho amador, típico em bares e cafés do Reino Unido –, compartilhando composições”.
Mais tarde, Lewis e Christopher foram “roubados de uma outra banda” por Meltzer, na noite em que se conheceram ao dividir o palco em uma apresentação. Após uma longa conversa e uma troca de socos com os membros do outro conjunto – que perdia os integrantes – a baixista e o baterista se juntaram aos dois rapazes.
Estava formado o quarteto. Só faltava um nome que os representa-se.
Durante um ano, a banda não teve uma identificação fixa, escolhendo nomes diferentes a cada show, como Rabbit Wars, Period Dad, Gio and the Wailers, entre outros. As nomeações agradavam os integrantes, porém ainda não eram exatamente o que buscavam. Após meses de esforços e reflexões, a inspiração surgiu em um momento… bem, digamos “inesperado”.
“Um dia, Bertie estava no banheiro e, ao observar a nossa bela cortina de chuveiro com rosto do Josh Goldblum estampado, o nome Dinosaur 94 simplesmente veio até ele. Todos nós gostamos muito de Jurassic Park e assim ficou”, contam.
Em 2018, acontece a divulgação dos seus três primeiros singles. “Sally”, “Elephant Dreams” e “Cokehead Joan” se destacaram – principalmente a faixa “Miss Brown”, do terceiro single – na cena alternativa local e foram responsáveis pela criação de um público que passaria a acompanhar a banda nos íntimos e agitados gigs – os shows – na capital escocesa.
Nas canções, chamam atenção os refrões chicletes, alguns picos frenéticos de energia, que quebram com a linearidade das músicas, e as levadas de guitarra e de baixo que lembram uma mistura de bandas como Sonic Youth, Talking Heads e Pixies.
No ano seguinte, lançam o seu primeiro EP: “Dennis Nedry`s Playlist”. O título faz referência ao nome do personagem interpretado por Wayne Knight, em Jurassic Park. O lançamento possuía seis faixas que, apesar de darem seguimento a sonoridade nos trabalhos anteriores, também apresentavam novos recursos instrumentais como o piano e os sintetizadores.
Entretanto, apesar do borbulho que já faziam no meio musical independente do Reino Unido, o seu primeiro grande hit veio em 2020. O single “Love Impaired” atingiu altas taxas de reprodução nas plataformas de streaming e a popularidade da banda, antes restrita a algo de escala local, tornou-se internacional.
“[Love Impaired] foi o Bertie que escreveu. Ela fala sobre como evitar uma separação e algo sobre se mudar para o Oriente Médio. É muito emocionante e certamente uma das nossas favoritas para performar”.
A música é um reflexo de todo o amadurecimento do conjunto, apresentando uma base de acordes com variações semelhantes ao blues e ao rockabilly, porém em um ritmo mais acelerado, como um rock dos anos 1990. As batidas e as linhas de baixo provocam uma agitação no ouvinte – algo intenso, mas, ao mesmo tempo, dançante – e as melodias do sintetizador são as cerejas do bolo.
Entretanto, em função da pandemia de coronavírus que, desde a época do lançamento do single, já assolava o mundo, o D94 ainda não pôde sentir o fervor que “Love Impaired” causaria na plateia em um show ao vivo.
“Essa música foi gravada logo após o primeiro lockdown que tivemos aqui no Reino Unido. Já tínhamos alguns shows marcados e que de repente, por causa da pandemia, foram tirados de nós. Assim, não podíamos fazer mais nada a não ser lidar com isso”.
Devido a eficiência das autoridades britânicas em ações no combate ao COVID-19, os países estão voltando à normalidade das atividades gradualmente. Ao perguntar para a banda, que já confirmou apresentações ainda para 2021, sobre as expectativas nesse retorno aos palcos, a resposta veio em um tom de pura ansiedade.
“Alguns (Lizzie e Bertie) estão muito nervosos e outros (Ed e Josh) estão muito animados. Também teremos mais pirotecnia e músicas novas no nosso set. Ainda não nos consideramos realmente famosos e, quando fizermos esse primeiro show, ficará muito claro o quanto nossas vidas mudaram”.
Em seguida, com muito entusiasmo, a banda faz o grande e tão aguardado anúncio:
“Lançaremos um álbum neste verão!” – para nós, do hemisfério sul, será no inverno.
Antes do disco de estreia, os músicos revelam que ainda ocorrerá a divulgação de alguns singles. “Song of the Century”, lançada há duas semanas atrás, foi a primeira dessas faixas – na verdade, foi um relançamento, já que ela estava presente no EP, lançado em 2019, e apenas ganhou um novo arranjo.
O Dinosaur 94 cresce e amadurece exponencialmente. Essas impressões são evidentes nas composições e criam grandes expectativas no público sobre o lançamento do seu primeiro álbum.
O som da banda dos “dinossauros escoceses” é tão potente quanto o barulho dos próprios animais jurássicos. Agora, para saber se também dominarão o mundo, somente ouvindo o seu disco. Aguardemos.
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