Giovanni Caruso, conhecido por seu trabalho na banda Escambau, agora inicia carreira solo com o álbum “Pangeu”. Confira resenha e entrevista com o artista

Entre construções românticas, políticas e até culturais sobre sua trajetória durante os 20 anos de carreira, o lançamento de Giovanni Caruso, “Pangeu”, traz um misto de emoções e criatividade que permite ao ouvinte viajar entre diversas atmosferas – e, tudo isso, a partir do contato intimista entre o artista e seu violão.

Álbum “Pangeu” de Giovanni Caruso

Em parceria com o Selo 180, Giovanni Caruso cita que essa é uma das primeiras vezes em que ele se arrisca em um álbum que não é majoritariamente de rock e que tomou vida com espontaneidade: “sentei num banquinho, liguei o microfone e toquei violão”. O disco logo inicia de modo nostálgico com a primeira-faixa, “Estranhamente Íntimos”,  que faz referência a suas moradas e idas em Paraguai e Argentina:

A faixa de abertura é uma moda de viola intitulada “Estranhamente íntimos”, onde há um encontro lírico do “eu” de 40 anos com o “eu” de 14. As cartas são postas na mesa pelas duas partes de um mesmo sujeito (eu, no caso) e a música conta com a ilustre participação de Maria Paraguaya (no triângulo).

PANGEU

O título do álbum, “Pangeu”, segundo o artista, também possui motivações emocionais parecidas: 

“Somos todos Pangeus!” – aglomerado entre centenas de pessoas no centro de Asunción, no Paraguay, ouvi estas palavras ecoarem pesadas sob o ar cálido da noite, em plena praça pública. Eduardo Galeano seguiria naturalmente sua “charla”, mas eu ficaria contundentemente estacionado naquela frase, como se o tempo tivesse congelado para que eu pudesse observar ao redor do tamanho daquela ideia utópica, poética, óbvia e genial. Isso aconteceu, se não me engano, em 2008. Agora, em pleno 2020, em meio a essa pandemia descomunal que nos envolve como um todo, de alguma maneira, a retórica de Galeano vem a calhar. Somos todos parte da mesma porção. 

Giovanni Caruso

Giovanni Caruso mescla diferentes formas de lírica e comunicação ao utilizar desde Português (tanto do Brasil quanto Portugal), Espanhol e até um “portunhol” para a escrita das composições – ferramenta que torna o disco dinâmico e criativo, sendo possível ambientar o ouvinte à história que está sendo contada. O álbum começou a ganhar forma a partir do ano passado, momento que o artista estava com uma coleção de ideias e canções guardadas apenas esperando pelo momento certo. Nas influências do músico, cabe citar artistas como Belchior e The Beatles – especialmente o álbum “Help!”, dos anos 60.

“Pangeu” é um disco simples e sincero, basicamente gravado com o apoio de um violão, um teclado e algumas percussões improvisadas. É uma obra passional, um documento melódico em primeira pessoa onde me abro da forma como jamais havia ousado fazer. Com exceção de 3 faixas que gravei em casa, no isolamento pandêmico de 2020, o álbum foi registrado em outubro de 2019 no estúdio Old Black Records pelo meu amigo Renato Ximú, que também produziu o trabalho todo.

A música escolhida como single e que tem previsão para lançamento de um videoclipe é a faixa 3, a romântica “Poesias Sinceras. A partir do Português de Portugal, Giovanni Caruso utiliza até expressões culturais respectivas para compartilhar o afeto por sua amada – como no trecho “estou feito ao bife”, que poderia ser traduzido como “estou frito”:

Te amo da maneira que tu és

Te adoro totalmente da cabeça aos pés

Não mudaria nada no teu jeito de viver

Tu fazes que eu me sinta muito bem

Contigo, de repente vou de zero a cem

Estou feito ao bife com este romance que inventei

Em “A Mais Bela Canção de Amor”, vemos uma música que facilmente poderia ser trilha-sonora de um filme apaixonado: o eu-lírico também demonstra a construção romântica entre as estrofes e sonoridade, que transmitem paz e aconchego. É uma bela pedida para mandar à pessoa amada – nesse momento, inclusive, vale lembrar que Giovanni Caruso também vem realizando lives durante a quarentena e até serenatas de amor (devidamente em segurança, claro). Você pode ouvir todas as canções do álbum aqui, e, quem sabe, escolher uma para presentear seu companheiro: 

A POLÍTICA EM “PANGEU”

Mas, nem só de amor vive o país – e, claro, o mundo da música. Além de todos os contextos e vivências culturais apresentados nas canções e até mesmo no título do álbum, Giovanni Caruso também aproveitou a oportunidade para lançar faixas sátiras e críticas sobre o atual contexto político e social que estamos vivenciando – como em “Live do Nosso Senhor”, que foi composta e gravada em casa durante a enxurrada de lives que estavam ocorrendo devido o isolamento social. Em “Mintologia de um Imbecil”, faixa seguinte que quase encerra o álbum, ficam nítidos os posicionamentos do artista feitos a partir do uso de metáforas. Confira um dos trechos e a faixa abaixo:

Eu venho perseguindo ser normal, pois é assim que se dobra um animal
É bom você já ir se acostumando com as cretinices que estou falando

Eu tento progredir na marcha ré, razão é o que vem logo atrás da fé

Preciso pronunciar no meu Twitter ideias que eu tive com o meu esfíncter 

Como a de incentivar a construção de estradas que correm na contramão

Desenvolver oculta uma milícia para assassinar e deturpar notícias

Eu tento como um louco ser normal, se é norte-americano eu pago pau

É bom você já ir se acostumando, em meio aos imbecis eu vou mitando

Mas, a faixa 10, “Orgão Efetivo do Livre Espaço do Pensar”, traz uma reviravolta na sonoridade do disco e dos assuntos até então apresentados: nesse momento, Giovanni Caruso nos apresenta uma canção com ritmo progressivo e pitadas de psicodelia, que, segundo ele, é uma ótima pedida para os momentos de meditação. Sinta-se livre, sinta-se você – longe do barulho, longe da TV. Em sequência, nos é apresentado “Eva Vilma”, uma homenagem a sua filha de 04 anos que o cativou em um momento de brincadeira, que encerra o álbum com esperança:

“Orgão Efetivo do Livre Espaço do Pensar” é uma viagem que pode durar tanto uma eternidade quanto um piscar de olhos, dependendo do interior do viajante. Aos 45’ do segundo tempo, quando o resultado de tudo isso estava definido, mixado, masterizado, concluído enfim, eis que, observando “Eva Vilma” (minha filha de 4 anos) brincar feliz e alheia a tudo, correndo, pulando, gritando e fazendo palhaçadas envolta em seu próprio mundo maravilhoso, brotou-me naturalmente a trilha sonora daquela tarde onde os mundos– tanto o meu quanto o dela – giravam ao revés de todos os outros mundos.

FAIXA BÔNUS: “TRANSFORMOU-SE EM MAR”, VERSÃO DE “JENNY WREN” DE PAUL MCCARTNEY

Mas a cereja do bolo ainda fica para a faixa bônus “Transformou-se em Mar”, uma versão da música “Jenny Wren” de Paul McCartney, que, infelizmente, não pôde estar presente nas plataformas digitais mas está disponível através do Youtubeclique aqui para ouvir

GIOVANNI CARUSO NA BANDA ESCAMBAU 

A banda Escambau, que Giovanni Caruso também participa, já é familiar aqui no Minuto Indie, como no super especial sobre Júpiter Maçã – uma das grandes influências do grupo – em que apresentamos o single “Viagem Astral com Júpiter Maçã” – para quem não leu, fica a indicaçãoE, sobre eles, o Giovanni também tem novidades:

O Escambau é uma das coisas que mais amo e me orgulho na vida, e a publicação desta obra não interfere negativamente em nada minha relação com o grupo, muito pelo contrário, como banda, estamos mais unidos do que nunca e produzindo um novo trabalho que em breve brotará fazendo vocês sentirem a existência bruta de suas próprias almas.

Segundo o artista, o EP será arrebatador e contará com 4 músicas inéditas. Ansiosos? 

Da minha parte, obviamente espero que curtam este trabalho que dedico à minha família, aos meus amigos e também aos fãs que curtem e acompanham minhas piras musicais. Sem vocês eu não seria o que sou e nada disso existiria.

“Pangeu” de Giovanni Caruso nas redes sociais:
Youtube: https://bit.ly/342dUu7
Spotify: https://spoti.fi/3aqzN7q
Deezer: https://bit.ly/33UsWCd
Google Play: https://bit.ly/2CqFbLv
iTunes/Apple: https://apple.co/3iBuXaz
Tidal: https://bit.ly/30TYAO6
Amazon: https://amzn.to/30TlSDN

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Autor

  • Tainara Fantin

    Formada em Ciências Sociais e pós-graduada em Jornalismo Digital fascinada pelas seguintes áreas de estudo: etnomusicologia, sociologia urbana e análise de discurso. Fotógrafa independente. Atualmente, faço graduação em Tecnologia de Eventos e Letras e, nas horas vagas, continuo apaixonada por música, cinema e literatura. instagram.com/tfntn • instagram.com/adaylnthelife fb.me/tainarafantin • fb.me/casualsabotage twitter.com/d4rksidem00n

Escrito por

Tainara Fantin

Formada em Ciências Sociais e pós-graduada em Jornalismo Digital fascinada pelas seguintes áreas de estudo: etnomusicologia, sociologia urbana e análise de discurso. Fotógrafa independente. Atualmente, faço graduação em Tecnologia de Eventos e Letras e, nas horas vagas, continuo apaixonada por música, cinema e literatura.

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