Elephant Run é uma banda que traz um som tão inesperado quanto a formação que a sustenta. Formado em 2015, é fruto de um encontro improvável entre os músicos Amanda Plantin (painao, sintetizador e vocais) e Ladislau Kardus (bateria) vinda de Malmö, na Suécia, e três músicos da cena indie paulistana: Fernando Coelho (guitarra e vocais) e Renato Cortez (baixo e sintetizador). Com essa fusão cultural e musical entre nórdicos e tropicais, temos aqui, uma entrega uma proposta artística que passeia por diversos gêneros, borrando as fronteiras entre o indie rock, psicodelia e jazz.
O som do Elephant Run é uma colagem de referências que transita livremente entre diferentes atmosferas e estéticas. As composições possuem um quê de experimentalismo que abraça a irreverência, permitindo que a banda explore territórios sonoros menos convencionais. O resultado é uma experiência auditiva rica e multicultural, que tanto reflete a diversidade de seus integrantes quanto o desejo de quebrar barreiras entre estilos. É como se as músicas convidassem o ouvinte a embarcar em uma jornada onde o familiar e o exótico se encontram, criando uma sensação de descoberta a cada nova faixa.
Destacamos a maneira como faz o experimental se encontrar com o acessível. Ao invés de criar músicas que isolam o público em nichos, eles conseguem romper bolhas culturais, acessebilizando essa fusão entre a leveza do indie rock, a liberdade improvisada do jazz e o toque psicodélico que convida à introspecção e à dança. Com influências que variam desde bandas como Tame Impala e Grizzly Bear, até artistas menos óbvios como Edith Piaf e as apresentações teatrais dos cabarés franceses, o Elephant Run desafia categorizações simples, e é exatamente aí que reside seu charme.
Sim, ‘Leftover Land’ tem um conceito por trás, mas que não chega a ser um álbum conceitual. É tão intrigante quanto seu título sugere. O álbum propõe uma reflexão sobre os “restos” – sejam eles emocionais, culturais ou sociais – que acumulamos ao longo da vida. São músicas que exploram o que deixamos para trás e o que escolhemos carregar conosco, tanto individual quanto coletivamente. Essa temática reflete uma sensibilidade contemporânea, ao mesmo tempo em que dialoga com uma visão cosmopolita, uma vez que o álbum parece absorver influências de diversas partes do mundo, transformando-as em algo novo e particular.
A voz de Amanda, com seu timbre envolvente e ligeiramente melancólico, é o ponto focal que guia o ouvinte por essa terra de sobras e redescobertas. Suas letras, cantadas em inglês e sueco, reforçam essa ideia de dualidade e de diálogos entre mundos aparentemente distantes. Ela transita entre o doce e o sombrio, criando narrativas que, embora subjetivas, evocam sensações universais, permitindo que o público se conecte tanto em nível emocional quanto intelectual.
Musicalmente, ‘Leftover Land’ mergulha ainda mais nas experimentações que já eram uma marca da banda. A guitarra de Fernando Coelho parece flutuar entre camadas de efeitos, enquanto o baixo de Renato Cortez e a bateria de Ladislau Kardos fornecem uma base rítmica que ora pulsa com intensidade, ora se desdobra em momentos mais introspectivos. O jazz, sempre presente nas composições do Elephant Run, surge aqui com ainda mais liberdade, enquanto a psicodelia assume um papel mais proeminente, criando uma paisagem sonora que alterna entre o onírico e o visceral.
Com ‘Leftover Land’ , o Elephant Run experimenta esse lado mais psicodélico, mostrando que, mesmo em meio a uma indústria cada vez mais homogênea, ainda há espaço para artistas que desafiam as convenções e se arriscar a criar algo verdadeiramente original. O álbum é uma prova de que a música, assim como a vida, é feita de encontros inesperados e de territórios inexplorados, onde o estranho e o familiar convivem em harmonia.