Dead Fish é uma banda que frequentemente é chamada de hipócrita, mas essa crítica simplista não considera a essência e a filosofia que a banda carrega. Labirinto da Memória é um álbum fortemente politizado — e isso não deveria ser problema algum, de início. O Dead Fish tem um viés claramente alinhado à esquerda, o que o destaca em um cenário musical muitas vezes dominado pela neutralidade e pela despolarização nas letras, mas se for analisado pelo movimento punk e do hardcore, a banda segue as tendências que envolvem os movimentos, sendo que o hardcore é mais progressista e o punk sendo mais alinhado ao comunismo e o anarquismo.
Eles assumem essa postura como um ponto de expressão e reflexão, e isso é algo que tanto a esquerda quanto a direita poderiam explorar mais no rock nacional, abordando suas ideias em suas músicas.
A faixa “11 de Setembro”, por exemplo, revela a visão crítica de Rodrigo Lima (vocalista, principal compositor e líder da banda) sobre o neoliberalismo, uma doutrina política que se consolidou após a ditadura de Augusto Pinochet, no Chile, em 1973, e também se relaciona com o evento ocorrido em setembro de 2001 no World Trade Center, situado na magnífica cidade de Nova Iorque, a simbólica cidade onde a grana corre nas veias do capitalismo.
Musicalmente, o Dead Fish entrega agressividade em um som explosivo, mesclando hardcore melódico e punk rock de forma contundente. Embora Labirinto da Memória seja o álbum mais bem produzido e polido da carreira deles, a essência crua da banda permanece intacta. As guitarras se destacam por seus riffs pesados e distorcidos, especialmente na faixa de abertura, “Adeus Adeus”. O baixo, por sua vez, constrói uma base rítmica incomum para o punk, como se percebe em “Aos Poucos”, trazendo uma estrutura mais trabalhada e natural, o que não é tão frequente no gênero. A bateria é agressiva e enérgica, mantendo a pegada punk, mas incorporando técnicas e recursos mais complexos, visíveis em faixas como “49”. No geral, o álbum é uma interessante fusão de punk e metal, com toques sutis de brasilidade no som.
No entanto, o que me incomodou foi a voz de Rodrigo Lima. Ele assina todas as músicas e, sem dúvida, canta e grita com intensidade. Em faixas como “Dentes Amarelos”, “Estaremos Lá” e “Criança Versus Criança”, sua performance é potente, mas, em certos momentos, chega a lembrar o vocalista dividir James LaBrie (Dream Theater), o que a depender de diversos pontos de vista, não é um ponto positivo.
Este foi o meu primeiro contato com o Dead Fish, e a experiência foi positiva. A banda critica abertamente o sistema econômico atual, mas algumas dessas críticas me parecem um tanto exageradas.
Me peguei pensando após ouvir este álbum:
“Será que eles realmente entendem o que é capitalismo? São hipócritas? Somos vítimas do capitalismo ‘malvadão?” Ou talvez eles sejam massa de manobra da esquerda radical?”. Será que são intelectualmente idiotas? Ou eu que sou idiota? O que Nietzsche diria? Mises? Marx? Droga… São muitas dúvidas a questionar dentro da minha mente…
Bom, não cheguei em uma resposta para todas essas perguntas, mesmo que não concorde com algumas opiniões que Dead Fish falou, fala e falará, sei que Labirinto da Memória é um álbum sólido, agressivo e envolvente.