O duo goiano Can Sad, formado por Henrique Agahdez (baixo) e Luís Feitoza (bateria), lançou seu álbum de estreia em março de 2024, “escatologia”, uma obra instrumental que aborda a saúde mental de maneira profunda e inquietante. O termo “escatologia” refere-se a uma doutrina sobre o fim dos tempos, um conceito que a banda explora tanto na estética sonora quanto nas temáticas implícitas em suas composições.

Reprodução: Acervo/Natália Michalzuk

Mesmo sem contar com letras profundas, digo, nem sequer conter letras, apenas sendo um álbum de rock instrumental, o álbum consegue transmitir uma mensagem poderosa sobre o desgaste emocional e psicológico que permeia a sociedade atual. O duo utiliza suas redes sociais, especialmente o perfil no Instagram (@oicansad), para reforçar essa conexão com a saúde mental, uma questão que, segundo eles, está diretamente ligada à opressão do capitalismo, que contribui para o sofrimento individual e coletivo. A crítica é polêmica, mas a banda sustenta sua visão com uma sonoridade que reflete esse desconforto e angústia.

Musicalmente, “escatologia” é uma fusão de rock industrial, math rock e rock instrumental, criando um clima pesado e denso que representa a fragilidade da saúde mental. As faixas “F”, “Burnout”, “Só Dói Quando Importa” e “Nós Dois Somos Um” são exemplos desse som corrosivo e agressivo, com linhas de baixo marcantes e uma bateria poderosa, que criam uma atmosfera de desconforto e tensão. Sendo “F” e “Burnout”, sendo as mais angustiantes de se ouvirem, pois ambas possuem um clima de inquietude, ansiedade e claustrofobia.

O álbum também apresenta um toque de brasilidade que enriquece sua diversidade sonora. A faixa “Brazuca” destaca-se ao misturar elementos de math rock e samba, enquanto “Samba Enredo Para o Fim do Mundo” transforma o ritmo tradicional do samba em uma peça de rock industrial, algo raro e ousado no cenário musical atual. A diversidade sonora se completa com a faixa “Para cada dor, a próxima estação”, que introduz a viola, o lo-fi e oferece um momento mais calmo e contemplativo, contrapondo o restante do álbum, que retrata uma sociedade acelerada e desumanizada.

Mas “Lorem Ipsum” é a faixa que consegue transmitir o conceito do can sad, ser um rock instrumental, com uma brasilidade que cehga a ser grosseira, com tanto swing que essa faixa consegue trazer. Apesar da relevância do tema da saúde mental, Escatologia não tem ganhado a atenção merecida. O álbum apresenta uma mensagem urgente e necessária sobre o cuidado com o bem-estar emocional, mas a sua recepção tem sido discreta, talvez por não seguir a tendência comercial de artistas mais acessíveis ou populares.

can sad trata a questão da saúde mental com seriedade, sem espaço para superficialidades ou piadas, conforme o duo nos contou na entrevista exclusiva que eles deram a nós do Minuto Indie. A banda acredita que o capitalismo contribui diretamente para o agravamento desse quadro, uma visão que se reflete tanto nas composições quanto nas postagens e posicionamentos online. Escatologia é uma obra que busca provocar reflexão e sensibilização sobre a necessidade de tratar a saúde mental com a devida seriedade.

Embora “escatologia” não tenha obtido grande repercussão até o momento, ele marca uma estreia poderosa do can sad no cenário do underground e da música brasileira. Com uma sonoridade complexa e uma temática impactante, o álbum convida os ouvintes a refletirem sobre o estado atual da saúde mental e o impacto das condições sociais. O duo goiano criou uma obra densa e inquietante, que, embora não chegue ao grande público, oferece uma perspectiva crítica e artística que merece ser ouvida e discutida.

 

Autor

Escrito por

Giovanni

Me considero um fã de prog, metal, jazz e indie.

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