Transmissão Circus Rock

Agressivo, direto e claro. Novo álbum da banda carioca é um soco na cara de quem ainda não entendeu nada sobre os dias atuais

Lançado no início de novembro, Transmissão é o novo álbum da carioca Circus Rock, banda que vem se destacando no cenário independente com clipes muito bem produzidos e um cuidado especial com as suas músicas no quesito construção, abordagem e execução.

A Circus reflete a tensão política e social do país atualmente em uma nova leva de canções, antecipadas pelos singles “O Plano”, com participação de Rodrigo Lima; “Renascer”, que ganhou um clipe; “Abstrações” e “Novo Mundo”, que tiveram lyric videos. Em comum, as faixas entregam uma lírica afiada que reflete sem meias palavras sobre o caos, porém sem perder de vista a esperança de uma existência mais justa para todos.

Transmissão Circus Rock
Imagem: Divulgação

Análise de Transmissão – Circus Rock

O grupo recebe os convidados Arthur Mutanen (Bullet Bane), Caio Weber (Cefa), Milton Aguiar (Bayside Kings), Renato Rasta (NDR), o rapper Marcão Baixada e Rodrigo Lima (Dead Fish). O disco foi produzido por Jorge Guerreiro (Dead Fish, Matanza, Pitty, Titãs, Rancore) e Bráulio Drumond, em uma grande celebração de diferentes gerações do cenário nacional.

De início, você pode se deparar com uma calmaria de M.A.P.E (Matéria, Ambiente, Percepção e Estímulo), que traz uma mensagem sobre os motivos que levam nós, seres humanos, a nos comunicar, a nos expressar e a reagir em determinadas situações. A música porém não termina nada calma como começa.

O Plano traz a participação de Rodrigo Lima, e tem uma letra bem direta para aqueles que ainda não conseguem perceber como as coisas funcionam. Em época de eleição, é ainda mais importante explicar como o grande plano do sucateamento dos serviços públicos em prol da privatização, as pirâmides de crescimento e a falta de acesso a informação pela população.

É importante destacar que mesmo com a pegada agressiva do instrumental, o disco é facilmente digerido, pois os vocais são muito claros e até calmos na hora de transmitir a mensagem das letras.

1317 é veloz, com guitarras técnicas e uma letra mais voltada as atitudes pessoais cotidianas, a música parece uma corrida para alcançar um objetivo, como o lucro, o topo da vida profissional e de vencer as disputas que podem não ser tão limpas assim. As promessas de soluções fáceis também são sutilmente abordadas e como o progressismo vem encontrando barreiras pelas coligações com empresas que apenas projetam retorno financeiro.

Renascer é mais íntima e é como uma reflexão das nossas próprias atitudes. Mais cadenciada musicalmente, você se pega pensando internamente no que nos faz tropeçar, cair, levantar e aprender com os erros. Mesmo que esse resultado demore a acontecer internamente, você se pega nos processos que te levam a enxergar coisas que durante essa transição, poderiam até mesmo ser impossíveis de se notar. A música possui um refrão forte e motivador para quem deseja deixar de lado motivações torpes e buscar um maior autoconhecimento.

Permita Sentir conta com a participação de Arthur Mutanen e prossegue nesse conhecimento interno sobre motivações que nos fazem felizes e as sensações que possuímos ao nos conectar com o externo. Também mostra que o dia a dia complicado não pode ser uma barreira pra permanecer atrelado as coisas que fazem bem e que você deve transmitir essas boas energias a outras pessoas.

Mais uma participação acontece em Novo Mundo, com Caio Weber, que também é muito reflexiva na questão de escolhas sobre o próprio caminho e os cuidados que temos que tomar a cada passo dado, pois muitas vezes a ambição pode nos levar a uma ganancia exacerbada e isso pode acarretar em um rumo sem volta para quem escolhe ter ações erradas.

Norte da Linha é mais uma explosão sobre os contrastes das vidas que as pessoas possuem, entre quem tem mais facilidade e quem tem poucas condições de sobreviver. A letra é forte: “quem é que lucra com a morte e por quê?”. O som vem como um choque de realidade pra quem vive vendo a vida passar e raramente nota o seu redor.

A última música do disco, Abstrações, é a que possui o maior número de participações, Marcão da Baixada, Milton Aguiar e Renato Rasta agregam força a Circus em uma música que mistura rap, hardcore, elementos do metal, gritos, versos fortes e muita melodia. A canção fala sobre as nossas projeções da realidade e como idealizamos a perfeição em coisas ou atitudes que não são bem perfeitas, e sim apenas uma ideia abstrata do nosso subconsciente.

Sobre o disco

Pra quem gosta de pensar com os ouvidos e ouvir com a cabeça, o álbum é cheio de reflexões, para você ouvir diversas vezes e a cada novo play, perceber algo novo, ter uma nova percepção e obter novas experiências em relação a sua percepção do mundo.

É certamente um dos lançamentos que estará na lista de melhores do ano do gênero e é um disco que é realmente marcante para quem ouve, independente de estar ligado ao cenário independente ou que não é tão ligado em uma música mais “barulhenta”.

A produção do disco consegue mostrar toda a força que a banda tem musicalmente e você começa a se imaginar dentro do show cantando cada uma das letras a plenos pulmões.

Embora tenha um paralelo possível com as incertezas trazidas pela nova realidade de isolamento social, “Transmissão” começou a ser produzido há mais de 1 ano, entre criação das músicas, pré-produção, gravação, inclusão das participações, edição, mixagem e masterização. O álbum foi viabilizado por uma espécie de “financiamento coletivo informal”. Os músicos organizaram um circuito de shows, quatro eventos seguidos de produção independente, 100% voltados para a arrecadação do CD, cuja verba foi atingida com sucesso.

Transmissão – Circus Rock

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Autor

  • Eduardo da Costa

    Redator do site Minuto Indie. Graduado em jornalismo e pós-graduado em marketing digital e comunicação para redes sociais, amante de música, esportes, cinema e fotógrafo por hobby. Siga-me nas redes sociais: Facebook: duffnfedanfe; Instagram: nfedanfe; Twitter: _duffe; Last.Fm: duffhc3m; Pinterest: duffe_;

Escrito por

Eduardo da Costa

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