O segundo EP do artista vem com três faixas que conversam entre si do início ao fim, e que contam uma narrativa interessante do ponto de vista do nativo e do estrangeiro, ambos na mesma pessoa e em terras diferentes
Álvaro Dutra é um cantor e compositor brasiliense que decidiu se aventurar por terras paulistas, iniciar uma nova fase na carreira da música e está agora com um novo EP. Ex-integrante das bandas “Pulso” e “Dissonicos”, o artista participou da composição das letras do mais recente álbum da banda Dead Fish, “Ponto Cego“, e optou por seguir carreira solo em 2020. Seu ano começou com o lançamento do EP “Começo”, com duas faixas, e desembocou, em março, para o BSB-SP, novo EP com três faixas que narram sua mudança da capital federal para a caótica terra da garoa.
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As sonoridades foram produzidas por uma equipe composta de amigos do artista: Fabrício Paçoca (bateria e guitarra), Isadora Pina (sax), Liliane Santos (trombone), Rafael Rezende (teclado) e Tom Suassuna (violino). Álvaro assumiu violão, baixo e voz. A produção e gravação técnica ficaram à cargo de Pedro Tavares, do 1234 Recording Studios.
Álvaro Dutra durante gravação do EP BSB-SP. 2019. Foto: Bianca Martim.
O estilo do artista é, à primeira impressão, dançante. A pegada Motown (combinação de blues e pop, ou ritmos gospel e harmonia de balada moderna), com teclado animado e sopros evidenciam o estilo do seu espírito musical. No novo EP, BSB-SP, o músico descarregou todas as suas influências do folk e country brasileiros e norte americanos; além de reflexões, amarguras, expectativas e felicidades de sua vida pessoal. Brasília, a primeira faixa, traz um folk com pitadas de rock. Aqui o cantor escolhe apresentar para o ouvinte sua terra de origem, descrevendo as paisagens típicas: “as quadras” ou o “imenso céu azul” até suas prováveis frustrações com a cidade: “Eu não quero ser um funcionário público/ Quero acreditar que há mais no mundo/ Mas Brasília é assim”.
Mas não se engane, ele abre a faixa seguinte, Náufrago, com: “Não me interprete mal/ Brasília mora no meu coração/ E devo tudo que eu sou a ter crescido aqui/ Com os amigos que entendem minha aflição”. Cantando as limitações e o solo seco que vê na cidade, Álvaro exprime aquela sensação de que tudo na vida tem um tempo, uma época, uma passagem, e da importância do movimento. E que é chegada a hora de novos ares: “não há vida sem tentar”.
Álvaro Dutra durante gravação do EP BSB-SP. 2019. Foto: Bianca Martim.
Por fim, em Risco, o compositor encerra o novo EP com sua mudança para a grande metrópole e uma melancolia a mais. A união de violino e sopros aumenta a sensação de distância e despedida. Mas ressalta, nas palavras, a imponderância e atração que sente pelas cidades grandes e o movimento constante. “Há algo em meio ao caos que faz o meu coração dançar mais/ Brasília é bonita e arborizada/ Com uma calma que as vezes me irrita/ Preciso de ação, de ter muita opção/ Não só de paz”.
O que parece, ao menos pra mim, é que não se pode ouvir essa músicas isoladas umas das outras. Assim como no álbum “Recomeçar”, de Tim Bernardes, em BSB-SP, Álvaro Dutra conta uma história com fases distintas, muitos sentimentos emaranhados entre si e o desejo ardente de recomeçar. Aparece, também, o dilema entre o conforto e a mudança difícil mas satisfatória. Os sentimentos são conhecidos da existência humana, mas o jeito que cada um conta é a grande sacada. Eu, particularmente, acho genial esses discos com a mesma pegada do início ao fim, e que, essa parte importa muito, não cansam os ouvidos. Parabéns, Álvaro, deu pra pescar o que você tá sentindo.
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