O dia das mulheres, como sabemos, é muito mais uma data de luta do que de comemoração. Dito isso, o blog do Minuto abre espaço para 4 mulheres proeminentes da música alternativa contarem sobre artistas femininas que tiveram influências decisivas nas suas vidas. Então agora com a palavra as blogueiras Joyce Guillarducci e Débora Cassolatto, a jornalista de música e assessora de imprensa Flora Miguel e a cantora Lara (do projeto Lara e os Ultraleves). Uma curiosidade é a onipresença da cantora Nina Simone, uma pedra fundamental do feminismo no universo musical.

Flora Miguel ( jornalista e assessora de comunicação com foco em música independente)

Eu devia ter uns 17 anos quando a Nina Simone apareceu pra mim como uma figura protagonista na música pra além do senso comum – machista – de diva/cantora intocável, quase imaculada. Achei um CD em meio aos discos do meu pai e pronto, foi paixão explosiva. Antes mesmo de saber do seu ativismo nos movimentos negro e feminista, eu podia sentir essa pressão que vinha dela: usar a arte como motor transformador social era uma necessidade.

https://www.youtube.com/watch?v=4grGAYx9koA

Joyce Guillarducci (Cansei do Mainstream)

Conheci as Spice Girls quando eu tinha 9 anos de idade e de cara fiquei totalmente fascinada por aquelas 5 jovens com suas roupas coloridas e seus gritos de GIRL POWER, inclusive foram deles que saíram minhas primeiras noções de feminismo. É claro que aos 9 anos eu não entendia que as Spice Girls eram um produto controlado por um grupo de homens oportunistas e que o tal GIRL POWER que eu achava tão autêntico já vinha sendo propagado há alguns anos pelas garotas do punk e do movimento riot grrrl. Ainda assim, as Spice Girls foram para mim o ponto de partida para um mundo de liberdade feminina que eu não conhecia, e continuaram por anos influenciando minhas escolhas em diversos aspectos da vida – de cor de cabelo à comportamentais (vocês já perceberam que 2 Become 1 fala sobre sexo seguro certo? E hey, o que vocês acham que ZIG A ZAG significa?). Letras polêmicas à parte, acredito que as Spice Girls foram muito importantes e até necessárias não só para mim, mas para muitas garotas da minha geração.

Lara Aufranc (Cantora e compositora na banda Lara e os Ultraleves)

Num Brasil de vozes femininas doces e sorrisos gentis, de compositores masculinos e intérpretes mulheres, Nina me apareceu como vinda de um sonho. Eu que tenho a voz grave e achava que mulher cantava suave, eu que amava Gil e não podia ser Nara, eu mudei quando ouvi Nina Simone. Hipnótica, forte, ousada, negra, mulher. Instrumentista impecável e compositora genial, Nina entrou na minha vida revolucionando o que eu achava que era ser mulher na música. Porque ser mulher é muito mais do que cantar amor e dor. É cantar o que quiser, como quiser, com quem quiser. E Nina cantou, gritou, bateu no piano e deixou marcas na minha alma solitária.

Débora Cassolatto (Debbie Records, Ouvindo Antes de Morrer)

Quase impossível indicar uma banda ou artista feminina que mudou minha vida porque foi paulada em cima de paulada, mas tenho um dream (girl gang) team: As Runaways por terem sido as primeiras a alcançarem o sucesso mundial com letras como “I wanna be where the boys are”, junto com a Joan Jett que foi a primeira mulher a fundar e dirigir uma gravadora depois de levar 23 “nãos” de todas as gravadoras possíveis para seu disco solo de estreia. Temos também a Kathleen Hanna com seu hino Rebel Girl que me pegou em cheio, junto com a Courtney Love, subvertendo coroas de princesas, misturando toda aquela agressividade com visual kinder whore. Não posso deixar de citar Nina Simone e seu ativismo chegando a apoiar os Panteras Negras, Billie Holiday e seu Strange Fruit, primeira pessoa a ousar a cantar uma música sobre direitos civis em plena segunda era da KKK, assim como a Tina Turner que atravessou o inferno com Ike e conseguiu se reconstruir e recomeçar do zero, aos 42 anos tornando-se uma das mulheres mais bem sucedidas do rock com 8 grammys. Ainda temos Amy Winehouse que conquistou o mundo cantando sua mistura única de soul, jazz, ska, sendo ela mesmo, com todas as entranhas e demônios de fora. E pra finalizar, além de Debbie Harry que transitou pelo esgoto do proto punk, não abriu mão de sua sensualidade e estourou com Heart of Glass apenas aos 33 anos, acho fundamental ressaltar Sister Rosetta Tharpe, a mulher negra e guitarrista que – de fato – inventou o rock and roll.

 

https://www.youtube.com/watch?v=4hAF6xyP3yg

 

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