O que esperar do novo álbum do Tame Impala

Analisamos o novo trabalho de Kevin Parker e mostramos o que o futuro poderá trazer

Depois de um breve suspense ao decorrer de 2019, o Tame Impala anunciou detalhes sobre seu próximo álbum a ser lançado: The Slow Rush, que chega em 14 de fevereiro de 2020. O anúncio foi feito pelas redes sociais da banda. Previamente, eles já haviam lançado dois singles esse ano, ‘Patience’ e ‘Borderline’, e agora junto ao anúncio, o terceiro single veio a tona: ‘It Might Be Time’. Mas, o que esperar do novo álbum do Tame Impala?

Em um momento ímpar de respaldo, o projeto da mente criativa de Kevin Parker é um dos principais nomes musicais da década. Tendo primariamente conquistado um status venerável na cena indie, hoje o Tame Impala tem em sua sonoridade e identidade um DNA elementarmente pop. Essa guinada a rumos mais ‘acessíveis’ se deu depois do sucesso com o terceiro álbum, Currents, de 2015.

Kevin Parker

Naquela época, antes mesmo do álbum ser lançado, Kevin já respondia a essas indagações sobre mudanças sonoras. Dizendo, que ele sempre achou o Tame Impala “totalmente pop” e que isso tinha um significado amplo. Diferente da mudança significativa iniciada com Currents, dessa vez o Tame Impala mostrou através desses novos singles, uma expansão desse “significado amplo” e não necessariamente uma mudança.

Durante o ‘hiato’, Kevin Parker confirmou de vez sua relevância artística perante a indústria americana. Colaborou em trabalhos de artistas importantes, como Mark Ronson, que além de ter sua colaboração no álbum Uptown Special(2015), foi responsável a apresentá-lo a Lady Gaga. Com a cantora, Kevin Parker trabalhou na faixa Perfect Illusion’ do álbum Joanne(2016) de Gaga. Sendo fã da artista, ele se mostrou surpreso ao ser chamado pela própria de “gênio”. Em outra ‘canonização’ de Kevin Parker ao pop atual, Rihanna fez um cover de uma faixa do Currents, ‘New Person, Same Old Mistakes’.

Nova fase

É como se no último álbum, Kevin Parker tenha mostrado que é possível aderir a uma sonoridade mais acessível mantendo um apelo artístico íntegro. Enquanto nessa nova fase que se aproxima, a fase de The Slow Rush, ele tenha que ‘atestar’ que não houve equívoco do mundo da música ao praticamente coroá-lo como o artista mais respeitado do indie na última década. Apesar dessa dinâmica representar de certa maneira o processo que envolve The Slow Rush, Kevin Parker não é tão pragmático assim. Ao trabalhar com Gaga, ele primeiramente pensou em:

“fazer isso pela minha carreira… Ir lá e compor umas músicas pop”.

Porém, não parece ter sido algo momentâneo, aqui estamos nós falando da influência pop em seu novo trabalho. A expectativa era que o álbum saísse ainda esse ano. <as entre outras coisas, no fim do ano passado Kevin perdeu parte do seu equipamento em um incêndio em Malibu. Nesse ano, com o lançamento dos singles prévios, já dá pra ter uma ideia de como será The Slow Rush. O primeiro single a ser lançado, ‘Patience’, traz uma sonoridade pop diferente da qual permeia Currents. Nessa faixa, Kevin incrementa elementos mais solares como congas na percussão, e sintetizadores mais ‘limpos’ e menos densos. Ainda assim, em certos momentos, o clima de balada pop presente em músicas como ‘Cause I’m A Man'(Currents, 2015) se faz presente.

Nesse primeiro contato com o que encontraremos em The Slow Rush, Kevin não se mostra muito inclinado a guitarras. Elas sempre cumpriram um papel fundamental nos últimos registros da banda. Porém como o próprio Kevin diz na música:

“Livin’ life in phases.

Another season changes”

Nessa nova fase, o clima dançante psicodélico parece ter sido potencializado numa abordagem mais ‘glamourosa’. É diferente da acidez nos grooves pulsantes de Currents. Assim, o segundo single ‘Borderline’, segue numa linha mais synthpop. No qual, a linha de baixo pegajosa marca de forma característica a música. Aos vocais, Kevin adota uma dinâmica quase ininterrupta. Acentuando com agudos as mudanças na música. Mais uma vez, as guitarras assumem um papel coadjuvante nas camadas sonoras.

Exímio em transmitir sensações através das suas composições, Kevin guia a música numa batida mais amena que em Currents. Assim como em ‘Patience’, em ‘Borderline’ ele traz um ar de ironia ao seu pop sofisticado. É possível refletir sobre como é estar na estrelada Los Angeles, imerso num aparente mar de relações intensas e descartáveis. Numa espécie de conversa consigo mesmo ele traz ao refrão:

“Will I be known and loved?

Is there one that I trust?”

Apesar de parecer tímido em experimentações, nesses dois primeiros singles Kevin trouxe uma adição ao pop psicodélico explorado em Currents. Porém, deixando de lado a lisergia e adotando uma veia mais lúdica da psicodelia. Fora isso, é bem verdade que com apenas esses dois singles as coisas tenham ficado turvas quanto a expectativas mais concretas que apontassem uma sonoridade específica em relação aos outros trabalhos da banda. Mas se neles a sensação é que a banda tenha soado ‘chapa branca’ demais, com o último single a curiosidade entre os fãs em volta de The Slow Rush floresceu empolgantemente. Isso porque além do lançamento do single ‘It Might Be Time’, Kevin Parker anunciou mais detalhes do álbum, como o próprio título; a capa, e a data de lançamento.

Expectativa

Talvez isso demonstre que Kevin veja ‘It Might Be Time’ como a mais definitiva do álbum entre os três singles lançados? É uma ideia que abre um leque de questões e expectativas. Sem dúvidas, ‘It Might Be Time’ é a que mais lembrou o Tame Impala que os fãs veneram. Ao mesmo tempo que apontou para novos caminhos a serem descobertos em The Slow Rush. Os teclados ‘limpos’ e sem muito reverb que marcam ‘Patience’ voltam para dar um charme no yatch rock aqui proposto. Porém, aqui eles soam mais ‘soltos’. Servindo como escada para o refrão, que mistura de forma cativante o vocal aveludado a bateria cheia do swing tão presente durante a trajetória da banda, no maior estilo John Bonham.

E aos saudosos admiradores da guitarra distorcida e cheia de fuzz de Kevin Parker, um deleite breve mas bem colocado dá uma tônica mais indefinida a mistura que é a música. Como num ‘descarrego’ pós-refrão, a guitarra entra rasgante e barulhenta, colocada afim de colidir com a finesse do resto da faixa. 

Titulo e capa

Para completar a introdução dos fãs a nova fase, o título e a capa parece dialogar com o que se vê nos singles. A começar pelo nome do álbum, “The Slow Rush”( “A corrida lenta”), uma contradição que parece fundir algumas ideias. A “corrida”, parece aludir ao ‘teste’ imposto a banda, sendo The Slow Rush sem dúvidas o álbum mais esperado da discografia da banda. Já a “lentidão”, combina com a sonoridade mais amena e sofisticada até aqui demonstrada. É claro que sendo o título algo tão pessoal do artista, quaisquer conclusões se limitam a leituras do contexto proposto pelo próprio artista.

Já no caso da capa, tudo fica mais descritivo e também imaginativo com o fator imagem.  Em uma conversa com os fãs em 2015 pelo Reddit, Kevin disse que a forma com que ele se relaciona com as capas de seus trabalhos é totalmente projetada. Para ele, a capa deve ser capaz de fazer o ouvinte “enxergar” a música. Nisso, ele tem sido fidedigno, como em Currents, com a estética do “metal líquido” que ilustra bem o pop psicodélico pegajoso e ácido do álbum. Assim, mais uma vez o astral solar volta a ser relacionado com The Slow Rush. Ao mesmo tempo, um certo mistério é referido na imagem da areia em um cômodo (?!). 

Mudanças

É certo que as mudanças significativas que ocorreram a Kevin vão de alguma forma aparecer em The Slow Rush, como o casamento ano passado; a convivência cada vez mais frequente com a elite da indústria musical em Los Angeles, e talvez o mais desafiador deles: estar no seu auge de respaldo artístico. No começo deste ano a banda encabeçou o festival mais ‘cool’ do circuito americano, o Coachella; depois de um burburinho questionador sobre o tamanho da banda para tal tarefa. Ao encerrar da década, é bastante significativo ver aquela que provavelmente é a mais influente das bandas indies atuais, tomar as atenções mais uma vez.

Arte

O que esperar do novo álbum do Tame Impala?

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Autor

  • Luan Gomes

    Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"

Escrito por

Luan Gomes

Viciado em descobrir sons novos e antigos, mas sem abrir mão de uns hits batidos tipo "The Real Slim Shady" do Eminem. Perde um dia de vida toda vez que vê a pergunta "o rock morreu?"