O início de tudo

Gui Hargreaves é um músico mineiro, que por ordem ou acaso do destino foi parar em Londres. Permaneceu na “gringa” por um bom tempo, sempre aprendendo e se aprimorando como músico. Neste ano, no término de uma apresentação de uma turnê com sua mentora, a cantora Francesca Della Monica, estava para nascer seu primeiro álbum. Algo que nem mesmo Gui esperava.

Um inglês de nome Howard Turner foi falar com ele, dizer que tinha gostado muito, tanto que comprou 10 CDs para levar para amigos e deu um cartão para que o procurasse caso estendesse a turnê para a Inglaterra. Guarde o nome. Gui pegou o cartão e viu que ele era jardineiro. No entanto, quando Gui entrou em contato com Turner, agora em Londres, este lhe passou ao seu assistente que o encaminhou a outro amigo, Ed Scull, que tinha recém aberto estúdio.

Foi aí que Gui descobriu que Howard se aposentara como saxofonista havia 10 anos, após desilusão amorosa. Então apresentou-se para Scull sugeriu após ouvir a música do brasileiro:“Vamos gravar?”. Isso desencadeou uma corrente de músicos daquela região da Inglaterra que se mobilizaram voluntariamente para participar desse projeto e completar a instrumentação, e o estúdio virou a Babel que se traduz em “Volta”.

No entanto, o que Gui não sabia era o passado desses recém conhecidos. No término de um ensaio um dos assistentes comentou com ele: “O Howard (Turner) tocou simplesmente com uns caras como Chick Corea, McCoy Tyner,Fela Kuti…O Ed (Scull) tocou em regravações sinfônicas do Pink Floyd, participações com Rick Wakeman, direto em Abbey Road, e por aí vai”. E a lista de grandes e talentosos nomes não para por aí. O baixista Guy Hassel, formado na Brighton Institute of Music e com excursões com dezenas de artistas de calibre, o percussionista Tim
Maryon, com extensa carreira na TV e cinema.

Gui Hargreaves se encontrou em ótimas mãos e não faziam ideia da importância desses caras em seu projeto. Ou o que ele o álbum “Volta” viria se tornar. Conversamos com o músico por um tempinho e este nos fornece detalhes sobre sua relação com o exterior e as impressões sobre a produção do novo álbum. Confira!

Entrevista com Gui Hargreaves

Minuto Indie: Gui, já é conhecida a sua trajetória de turnês pelo mundo. O que essa experiência de viajar para outros lugares, com culturas diferentes e distintas da nossa te trouxe como músico?

Gui Hargreaves: Isso vai de qualquer viagem que você faça, fora do seu país, da sua língua, seja prá fazer o que for. Essa experiência me trouxe a possibilidade de entender o meu papel como músico e compositor, independente da minha relação com a minha língua. Porque eu não dissociava as coisas. Eu tinha o papel da língua muito atrelado ao que eu fazia e musicalmente, isso era uma crítica grande nos meus anos em BH, me apresentando. A língua sempre me pegou muito. Foi uma relativização desse lugar, onde eu poderia experimentar o desafio de ser músico, independente da poética.

Minuto Indie: Houve algum momento inusitado ou que você considerou estranho em algum show na gringa?

Gui HargreavesNossa. Tiveram muitos. Em NY, quanto eu toquei em um jazz club, que eu saí da passagem de som e tinha 700 mensagens e chamadas no telefone. Era gente me perguntando se eu tava bem porque tinha acabado de acontecer um atentado no metro de Chelsea, justamente na linha que eu pegava. Eu nunca tinha vivido uma situação de atentado.

Tudo fora do país é diferente. Só o fato de depois dos meus shows, me reunir com outros músicos como o Erlend do Kings of Convenience, ou os músicos do The Whitest Boy Alive, era uma coisa inusitada prá mim. E acabamos ficando amigos.

Minuto Indie: Como foi a experiência de ter músicos tão talentosos e com longos anos de estrada ao seu lado na produção desse trabalho?

Gui HargreavesFoi ótimo, até porque eu não sabia quem eles eram até terminar o trabalho. Risos. Eu não tinha noção do tamanho de cada um que estava lá e depois que fui entender onde eu estava inserido.

E, claro, que na prática isso foi muito enriquecedor pro disco.

Minuto Indie: Houve alguma composição que foi deixada de fora do projeto? Se sim, por que?

Gui HargreavesHouve. Entre 870 e 920 músicas que não entraram nesse disco (risos). Eles queriam até mais músicas, mas me pareceu coerente escolher essas 6, fazer um outro disco pequeno. As pessoas ouvem um single, aí pulam, raramente ouvem um disco na íntegra. Então, preferi fazer um disco compacto, que as pessoas chamam de EP,mas que eu entendo como álbum, porque tem uma unidade. Elas têm sentido entre si.

Minuto Indie: O que foi mais difícil ou desafiador para você enquanto estava em estúdio?

Gui HargreavesDo processo todo, o mais difícil foi o pós. Como eu o projeto foi feito sem custos pra mim e foi um processo tão natural, chegar, gravar as músicas e de repente elas virarem um disco, eu tive que aceitar e entender o tempo que cada profissional lá tinha pra finalizar o CD.

Minuto Indie: Quais foram os artistas que mais influenciaram “Volta”?

Gui HargreavesVenho respondendo muito sobre isso, e costumo dizer que acho muito difícil falar de referências no geral, prefiro fazer um corte relativo a esse trabalho. As referências que dialogam mais com esse disco são de um novo folk, que tem a ver muito com Devendra Banhart, Amarante, que puxa também para MPB. Tem um pouco do disco Transa, do Caetano, que foi concebido em Londres também. Tenho um pouco de referências de um jazz brasileiro, tem uma pegada do folk pop que vão pro lado de Kings of Convenience e Jose Gonzalez.

Autor