Sobre Nós será lançado ainda em 2018, junto a um livro com reflexões sobre música, arte e política

 

O videoclipe do single ‘Cidade Sem Lugar’, lançado no último mês de abril, reafirmou o hardcore politizado do Gagged, que coincide com Brasil despedaçado e à beira do colapso. As críticas à desenfreada impessoalidade das cidades, no convívio diário e nas reações primitivas a este contexto são apenas os primeiros de tantos temas político-sociais que a banda paulista articula nas letras das demais canções do álbum Sobre Nós, o sucessor do elogiado Silent, previsto para ser lançado ainda em 2018.

A sonoridade do próximo disco segue a proposta de ‘Cidade Sem Lugar’, isto é, músicas recheadas de riffs rápidos, com o peso hardcore, a partir de estruturas que remetem principalmente ao punk californiano, ou hardcore melódico, mas também a outras referências dentro do rock.

A diversidade e a pegada característica da Gagged se fundem, por exemplo, em uma faixa intitulada ‘Caleidoscópio’, que deve ser o próximo single. Como comenta o vocalista Zeca, tem levada rock n’ roll, com riffs mais clássicos que abrem espaço à letra e para melodias de voz mais agressivas.

“A prosódia da música é muito legal, porque a intensidade vai aumentando e vai ficando claro que as tendências, no som e na temática, só podem conduzir ao caos. A música acaba num desarranjo intenso, cheio de dissonâncias e insanidades”, ele ressalta. Construída em metáforas, a letra é, mais uma vez, pontual: como o debate partidário polarizou nosso país, “de maneira burra”, aponta Zeca.

Mais do que música, o novo álbum do Gagged será lançado – inicialmente – nas plataformas de streaming e virá junto a um livro, uma espécie de ensaio que organiza as ideias propostas nas letras e que convoca à reflexão sobre música, arte e política.

“Quando todas as letras ficaram prontas a gente percebeu que existia uma unidade em torno delas. Estávamos o tempo todo falando sobre os problemas de nossa geração, do caos do nosso tempo histórico, mas sob perspectivas diferentes. Em alguns momentos falamos sobre uma lógica maior, sobre nossas relações humanas e sobre a sociabilidade contemporânea. Outras vezes, falamos sobre o ponto de vista do indivíduo e sua progressiva mecanização, num processo carregado de falibilidades, culpa, angústia e raiva. Por outras, falávamos de maneira concreta, sobre peculiaridades nosso país. E tudo sempre remetia para aquela mesma grande lógica como integração das ideias”.

Para Zeca, o contexto do novo disco, cujo single ‘Cidade Sem Lugar’ é o embrião, será uma experiência diferente no cenário hardcore nacional. “Aqueles que se propuserem a ler de cabeça aberta sairão com perguntas novas na cabeça”. E completa: “A gente simplesmente não consegue ficar fora do debate. A gente vive intensamente nosso tempo histórico e quer entender, discutir e compartilhar sobre o que a gente vê e sente. Não temos a pretensão de fazer algo como uma grande revolução, mas a gente tem certeza que algumas pessoas se identificarão com nossas ideias e perceberão que elas influenciam na forma em que nossa sonoridade é construída”.

Política

O Gagged não esconde, é politizada e assume um posicionamento progressista. Sobre isso, faz questão de enfatizar que o conteúdo das letras é construído a partir de um posicionamento político, mas não partidário.

“A gente tem uma visão de mundo que construímos ao longo da vida. A gente debate e estuda sobre isso, faz parte do nosso dia a dia. A gente entende a arte como uma visão de mundo. Pra nós é inevitável falar sobre política. Mas nossa linguagem musical não é panfletária. Inclusive por que essa abordagem vem sendo utilizada como instrumento de manobra”, explica Zeca.

Junto ao posicionamento político, o vocalista é enfático ao assumir, enquanto Gagged, a função social do punk rock, a de contestação do sistema. “Portanto, a despeito de algumas letras de bandas do punk e hardcore flertarem com a intolerância e com o uso quase fascista da violência, o berço do estilo é a denúncia social, é uma visão de transformação do mundo, de ideias que permeiam, grosso modo, o ideário progressista, da esquerda”.

Cidade sem Lugar

Sobre a repercussão do videoclipe de ‘Cidade Sem Lugar’, Zeca revela que os feedbacks foram construtivos. “Alguns perceberam as referências de Pennywise, outros lembraram Propagandhi, o que obviamente nos deixou muito orgulhosos. Neste disco a gente primou muito pelo detalhe de composição. Todas as músicas têm aqueles pequenos detalhes e variações de arranjo que você vai percebendo conforme escuta”.

Autor

  • Eduardo da Costa

    Redator do site Minuto Indie. Graduado em jornalismo e pós-graduado em marketing digital e comunicação para redes sociais, amante de música, esportes, cinema e fotógrafo por hobby. Siga-me nas redes sociais: Facebook: duffnfedanfe; Instagram: nfedanfe; Twitter: _duffe; Last.Fm: duffhc3m; Pinterest: duffe_;

Escrito por

Eduardo da Costa

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